Seguidores

domingo, 27 de dezembro de 2009

Texto de Danilo Gentili comentando piada de Robin Wilians sobre o RJ e sua escolha como cidade-sede



"Uns anos atrás os Simpsons vieram pro Brasil. Homer foi sequestrado. Bart ficou excitado com a loira de shorts enfiado na bunda que apresentava um programa infantil na TV. O menino pobre que a Lisa ajudou não tinha o que comer, mas estava muito feliz desfilando no Carnaval". 

Esses dias Robin Willians falou o seguinte: "Claro que o Rio ganhou de Chicago a sede das Olimpíadas. Chicago levou Michele e Oprah e o Rio levou 50 strippers e 500g de cocaína”.

Eu ri! Advogados, autoridades e populares se revoltaram nos dois casos. Eles não se revoltam, não se mobilizam, não processam, não abrem inquéritos, não fazem passeatas quando o sequestro, a loira vagabunda apresentadora de programa infantil, a idiotice do carnaval, o tráfico de drogas e a prostituição acontecem na vida real bem debaixo dos nossos narizes.

Eles se revoltam só quando usam isso pra fazer piada. A piada realmente boa sempre ofende alguns e mata de rir outros por um motivo simples: a boa piada sempre fala de uma verdade. Num País onde aprendemos a mentir, enganar, roubar, tirar vantagem desde cedo a verdade não diverte. Assusta. O cara engraçado pro brasileiro é sempre aquele que fala bordões manjados, dá cambalhotas no chão em altas trapalhadas, conta piadas velhas, imita o Silvio Santos e outras personalidades ou faz um trocadilho bobo mostrando ser um ignorante acerca dos assuntos. Esses bobos passivos nos deliciam porque não incomodam ninguém! Um cara que faz um gracejo com uma verdade inconveniente pro brasileiro é como o alho pro vampiro. Merece ser execrado.

O brasileiro é uma gorda de 300 quilos que odeia ouvir que é gorda. Ela faz um regime pra parar de ouvir isso? Não! Regime e exercício dão muito trabalho. É mais fácil ir no shopping, comprar roupa de gente magra, vestir e depois acomodar a bunda na cadeira do McDonalds. O problema é que nem todo mundo é obrigado a engolir que aquela fábrica de manteiga é a Barbie, só porque está com a roupa da Gisele Bündchen. Então é inevitável que mais hora menos hora alguém da multidão grite: "Volta pro circo!" ou "Minha nossa! É o StayPuff com o maiô da Dayane dos Santos?". Então a gorda chora. Se revolta. Faz manha. Ameaça. Processa. Porque, embora ela tentou se vestir como uma magra, no fundo a piada a fez lembrar que ela é mais gorda que a conta bancária do Bill Gates. A auto-estima dela tem a profundidade de um pires cheio de água.

Ao invés de dizer que Robin Willians tem dor de corno, prefeito do Rio, vai cuidar primeiro da sua dor de mulher de malandro. Sabe? Mulher de malandro sim, aquela que apanha, apanha, apanha, mas engole os dentes e o choro porque acha que engana a vizinha dizendo: “Eu tenho o melhor marido do mundo”.

Advogados. Vocês já são alvos de piadas por outros motivos. Já que se incomodam com piadas, evitem ser alvos de mais algumas delas não processando Robin Willians. Em vez de processo, envie pra ele uma carta de gratidão. Pense que ele estava num dos melhores programas de TV do mundo e só falou de puta e cocaína. Ele poderia ter falado, por exemplo, que o turista que vier pra Olimpíadas, se não for roubado pelo taxista, o será no calçadão. Poderia também ter dito que o governo e a polícia brasileira lucram com aquela cocaína do morro carioca que ele usou na piada. E se ele resolvesse falar algo como: “As crianças do Brasil não assistirão as Olimpíadas porque estarão ocupadas demais se prostituindo”? Ah... E se ele resolvesse lançar mais uma piada do tipo: “Brasileiro é tão estúpido que se preocupa com o que um comediante diz, mas não se preocupa no que o político em quem ele vota faz”? Enfim... são muitas piadas que poderiam ter sido feitas. Quem é imbecil e se incomoda com piada, não seja injusto e agradeça ao Robin Willians porque ele só fez aquela. E depois brasileiro insiste em fazer piada, dizendo que o Português é que é burro".

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

HOJE, O NATAL É UMA SAUDADE DO NATAL


         Gente, é Natal! Natal, galera, Natal!!! Uhú!! Vamos lá, abra a porta e dê bom dia pro energúmeno do seu vizinho que não te deixa dormir ouvindo música no último volume a noite toda. Ligue pra sua cunhada, aquela que você não fala há um tempão e que daria um braço pra ver ela arrebentar uma sandália na rua num dia de chuva e se estatelar de cara no chão bem longe de casa. Mande um cartão pro desgraçado que pegou seu DVD do Cinema Paradiso, versão estendida e com extras e não te devolveu. É época de Natal, quem sabe agora ele para de fingir que não está em casa. Mande um e-mail pra todas as mulheres que você já ficou e te odeiam. Espere com um sorriso no rosto na fila do banco. E quando chegar lá na frente sorria e deseje feliz Natal a todos! Manda um cartão pro corno do seu chefe que te manda fazer alguma coisa pra amanhã dois minutos antes da sua hora de ir embora. Não ligue pra isso, é Natal! Encha a cara e abrace todo mundo, diga que ama todo mundo, que todo mundo é o máximo e que você admira todo mundo! Mas não se esqueça de bater no peito e dizer “eu goshto de voshê pra cacete! Na boa, você mora aqui, ó!”. Compre presente pra todo mundo. Até para sua sogra (urgh!). Se ela já foi desta pra melhor, leve flores no cemitério, (aproveite e confira se ela ainda está lá). Afinal, todos merecem presentes. Até mesmo aquele seu outro vizinho que nunca olhou na sua cara; pai daquele menino capeta que insiste em jogar bola usando o seu portão como gol. Não seja amargo, homem de Deus, é Natal! O que importa se o cachorro do seu vizinho comeu seu para-choques e se o filho dele quebrou sua janela com aquele maldito estilingue? É Natal. Mande-lhe uma cesta de Natal. Não seja mesquinho. Qual o problema se o jornal que você assina só chega depois que você saiu pro trabalho, e sempre cai numa poça d’água? Isso não é nada perto da magia e da paz da Noite de Natal. Procure aquele sujeito que dá a volta no quarteirão pra não passar na frente da sua casa só por que está te devendo, e lhe dê um abraço apertado e lhe deseje boas festas! Deixe caixinhas de Natal no restaurante que você almoça, pro cara de quem você compra sorvete, no jornaleiro, na portaria do seu prédio, no da sua namorada e no do seu trabalho, em todos os lugares! Afinal, é Natal, época de caixinha! Leia todos os textos idiotas que te mandarem essa época, e retribua a todos, sem exceção. Não reclame dos carros de som, dos políticos, nem do engarrafamento, nem se você ficar duas horas na fila do almoço e três no trânsito. É Natal, pessoal!!
        E por falar nisso, Feliz Natal a todos os leitores e críticos deste blogue, seguidores ou não. E não esqueçam da nossa caixinha (de comentários).

SOROCABA SEM RODEIO - AGORA É LEI - UM EXEMPLO PARA SER SEGUIDO


      O prefeito de Sorocaba, Victor Lippi, junto de ativistas e membros do Movimento Sorocaba sem Rodeio, promulgou na manhã desta terça-feira, às 10h00 min. em seu gabinete a lei que proíbe as provas de rodeio no município.
      O movimento teve início em 08 de agosto de 2009, quando membros do Movimento em Defesa dos Direitos dos Animais realizaram o I Fórum Municipal sobre os Direitos dos Animais. Foi no “Fórum” que surgiu a proposta da criação de um movimento que buscasse assinaturas (cerca de 20 mil) para a apresentação de um Projeto de Lei de Iniciativa Popular que proibisse os rodeios no município.
      O grupo apostou neste caminho, embora mais demorado, por acreditar que a busca pelas assinaturas seria um bom instrumento para a abertura de um debate na sociedade.
      Foram várias as atividades realizadas pelo grupo que, ao longo de quatro meses, coletou quase cinco mil assinaturas. A Câmara Municipal, entretanto, resolveu apresentar, através do vereador Irineu Toledo, projeto de lei com o mesmo objetivo.
      O “Movimento”, entendendo que a iniciativa, apesar de não contemplar a possibilidade que o Projeto de Lei de Iniciativa Popular estava propiciando – o debate amplo sobre Direitos dos Animais –, resolveu abraçar a iniciativa do vereador e buscar apoio para a aprovação do projeto.
      Em 01 de dezembro o projeto foi aprovado, com a redação feita pelo grupo e, no dia 22 sendo promulgado pelo prefeito de Sorocaba.
      A promulgação terá um ato simbólico, onde o grupo quebrará uma espora feita de argila.
      Sorocaba, que já foi pioneira na proibição de animais em circos, há dez anos, dá um passo adiante, servindo de exemplo a todos que lutam em defesa dos Direitos dos Animais, segundo um dos coordenadores do movimento, o professor e ambientalista Gabriel Bitencourt.
      Muito se caminhou na busca da garantia dos Direitos dos Animais, entretanto, a incompreensão, o desrespeito e a falta de ética na relação com outras espécies que habitam o planeta indicam um longo caminho, ainda, por ser trilhado, afirma Bitencourt.



sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

PRECISAMOS URGENTEMENTE DE UMA LEI QUE PROTEJA OS BENS HISTÓRICOS DE NOSSA CIDADE



"Os prédios históricos são testemunhas físicas do passado da nossa cidade. Mais que respeito a um passado glorioso, o trabalho de preservação do patrimônio histórico implica no estabelecimento de elos indeléveis entre a vivência e conhecimento do passado, o legado histórico que somado às inovações do presente transforma-se em herança para as gerações do futuro". 

        Tombamento:
       Com a intenção de proteger bens que possuam valor histórico, artístico, cultural, arquitetônico, ambiental e que, de certa forma, tenham um valor afetivo para a população, é que se tem o instituto do tombamento, caracterizado pela intervenção do Estado na propriedade, e regulamentado por normas de Direito Público.
       O vocábulo tombamento é de origem portuguesa, e é utilizado no sentido de registrar algo que é de valor para uma comunidade, protegendo-o através de legislação específica.
       Dentre os precedentes normativos dispostos na legislação brasileira acerca do tombamento e da proteção ao patrimônio histórico, artístico e cultural, destaca-se o Decreto – Lei nº. 25 de 30 de novembro de 1937, que ordena a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e a Lei nº. 3.924 de 26 de julho de 1961, que dispõe sobre os Monumentos Arqueológicos e Pré – Históricos.
       Entre os diversos conceitos que podem ser adotados para definir tombamento, cito este: “Tombamento é um ato administrativo realizado pelo poder público com o objetivo de preservar, através da aplicação de legislação específica, bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados”.
       Tombamento visa proteger patrimônio, mas o que seria patrimônio? De acordo com o Dicionário Aurélio, patrimônio é: “Bem, ou conjunto de bens culturais ou naturais, de valor reconhecido para determinada localidade, região, país, ou para a humanidade, e que, ao se tornar(em) protegido(s), como p. ex., pelo tombamento, deve(m) ser preservado(s) para o usufruto de todos os cidadãos”.
       “Art. 216 da Constituição Federal – Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira.
       O tombamento pode ter por objeto bens móveis e imóveis que tenham interesse cultural ou ambiental para a preservação da memória e outros referenciais coletivos em diversas escalas, desde uma que se refira a um Município, como uma em âmbito mundial. Estes bens podem ser: fotografias, livros, acervos, mobiliários, utensílios, obras de arte, edifícios, ruas, praças, bairros, cidades, regiões, florestas, cascatas.
       O bem objeto de tombamento não terá sua propriedade alterada, nem precisará ser desapropriado, pelo contrário, porém, deverá manter as mesmas características que possuía na data do tombamento. Seu objetivo é a proibição da destruição e da descaracterização desse bem, não havendo dessa forma, qualquer impedimento para a venda, aluguel ou herança de um bem tombado, desde que continue sendo preservado.
       A preservação dos bens culturais ou ambientais, se dá, impedindo principalmente a sua destruição. Portanto, aquele que ameaçar ou destruir um bem tombado estará sujeito a processo judicial, que poderá definir multas, medidas compensatórias ou até a reconstrução do bem como se encontrava na data do tombamento, de acordo com a sentença final do processo.
       Além do tombamento, a preservação de bens históricos, artísticos e culturais pode se dar por meio do inventário, registrando-se as principais características de bens culturais e ambientais; os Municípios devem promover o desenvolvimento das cidades sem a destruição do patrimônio; as leis orgânicas podem criar leis específicas que estabeleçam a redução de impostos municipais aos proprietários de bens declarados tombados, a fim de incentivar a preservação de tais bens.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O SEMEADOR E O QUE SEMEIA


“Entre o semeador e o que semeia há muita diferença. Uma coisa é o soldado, e outra coisa é o que peleja; uma coisa é o governador, e outra coisa o que governa.
Da mesma maneira uma coisa é o semeador, e outra o que semeia; uma coisa é o pregador, e outra o que prega. O semeador e o pregador, é nome; o que semeia e o que prega, é ação; e as ações são as que dão o ser ao pregador. “Ter nome de pregador, ou ser pregador de nome, não importa nada; as ações, a vida, o exemplo, as obras, são as que convertem o mundo.”
(Sermão da Sexagésima, Padre Vieira)

QUESTÃO DE ESCOLHA


Toda vez que viajo, mesmo sem sair do lugar, sinto que posso, a qualquer momento, mudar de direção. Ou posso seguir naquela mesma direção e ir transformando aos poucos o caminho. É tudo uma questão de escolhas. E não há como viver sem elas.

NÃO TEMOS SALVAÇÃO!


          Não faltam motivos para descrer da Humanidade. Vamos combinar que fizemos coisas extraordinárias, mas nossa passagem pela Terra não está sendo exatamente um sucesso. Para cada catedral erguida, bombardeamos três. Para cada civilização vicejante, liquidamos quatro; a cada gesto de grandeza correspondem cinco ou seis de baixeza; para cada Ghandi, produzimos sete tiranos; para cada Cora Coralina, 17 energúmenos.
          Inventamos vacinas para salvar a vida de milhões ao mesmo tempo em que matamos outros milhões pelo contágio e a fome. Criamos telefones portáteis que funcionam como gravadores, computadores e às vezes ainda temos problema com a coriza nasal.
          Nosso dia-a-dia é cheio de pequenas calhordices, dos outros e nossas. Rareiam as razões para confiar no vizinho ao nosso lado, o que dirá do político lá longe, cuja verdadeira natureza muitas vezes só vamos conhecer pela câmera escondida.
          Somos decididamente uma espécie inconfiável, além de venal, traiçoeira e mesquinha. E estamos envenenando o planeta, num suicídio lento do qual ninguém escapará. E tudo isso sem falar no racismo, no terrorismo e no “Big Brother Brasil”.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

AGORA É LEI



          O movimento Sorocaba Sem Rodeios, através de diversas associações e ONG´s, viu coroar de êxito todo o seu esforço com a campanha de coletas de assinaturas para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular.
          Foi aprovada hoje na Câmara Municipal de Sorocaba a lei que proíbe a realização de rodeios na cidade. A lei proíbe os maus tratos e a utilização de animais em rodeios, vaquejadas e cavalhadas e outras coisas do tipo, o que significa um imenso avanço para Sorocaba, no que se refere ao tipo de sociedade que pretende ser, ainda mais para uma cidade que quer ser reconhecida como “cidade educadora”. Vale lembrar que em Sorocaba, a utilização de animais em circos já era proibida.
          Tenho esperança de que o exemplo de Sorocaba sirva de inspiração a outras cidades do país que estão empenhadas nessa empreitada de proibir nessas praças essa manifestação nefasta e desumana que é o rodeio. Seja através de passeatas, como em Piracicaba, Limeira, Jaguariúna ou até mesmo com movimentos como o que ocorreu em Osasco no mês passado cancelando um rodeio através de abaixo-assinado. Muitos movimentos semelhantes já ocorrem no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Goiás.
          Não é mais aceitável que nós, seres humanos, utilizemos o sofrimento de outros animais como forma de divertimento. É preciso uma mudança de comportamento, condizente com todos os avanços que a civilização humana vem apresentando nas últimas décadas.
          Esse desenvolvimento da sociedade pode ser percebido no consenso que existe em relação aos maus tratos aos animais. Então, se a voz uníssona da sociedade já percebeu que não existe humanidade em maltratar outro ser vivo para uma pretensa diversão - e que justamente o que diferencia o ser humano é a capacidade de compaixão - já está na hora de avançar, de mudar os paradigmas e a mentalidade da sociedade.
          Está aí um bom exemplo a ser copiado pela nossa São Miguel Arcanjo. Quem sabe assim, na próxima "Festa da Uva", teríamos uma festa, no mínimo mais saudável.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O NATAL ESTÁ CHEGANDO



          Dezembro está chegando e com ele o Natal. E como já disse uma vez, não gosto do Natal. Não chego a odiar, mas não gosto. Já gostei. Quando pequeno lembro que a árvore lá de casa era um “pinheirinho de verdade”, trazido todo ano por meu pai, não sei de onde, mas que juntamente com minha mãe e minha irmã gostávamos de preparar a árvore com dias de antecedência, inclusive com os algodões para “sinalizar a neve”. Gostava daquele clima natalino...
          Mas com o tempo, o Natal se transformou naquela época em que a solidariedade se se torna uma obrigação, cumprida sem o sentimento que deveria alimentá-la. Por isso, os orfanatos podem se encher de presentes, geralmente velhos e quebrados, e os hospitais podem ver trocado o perfume dos seus corredores e repletas de maçãs nas mesinhas de cabeceira dos internos e os asilos podem se encher de netos, reais ou postiços, e lembranças materiais, sem que os gestos sejam filhos da verdadeira solidariedade, aquela que jamais nasce da culpa.
          Talvez porque é aquela época em que aqueles que não participam das festas podem ampliar no coração o abismo que separa sua realidade do nada ou pouco ter da realidade do tudo ou quase tudo ter. Por isso, é honesto perguntar se a grande festa da humanidade não foi transformada numa afirmação de que as diferenças não existem e que não devem ser superadas, uma vez que fica a impressão de que toda mesa tem, ignorando-se que umas têm demais, outras têm de menos ou outras simplesmente não têm.
          E os shoppings e lojas durante a semana do Natal? Existe coisa mais horrível que aquele bando de falsos gordos (alguns nem tão gordos assim) com barbas brancas postiças e de coturnos. São constrangedores, dignos de um Papai Noel de mentirinha. Com suas roupas próprias para a neve, debaixo de um calor de 40 graus de dezembro. Sem falar naquelas insuportáveis “musiquinhas” tipo Jingle Bell.
          Mas o pior mesmo é a ceia propriamente dita. Com o passar dos anos, a família vai crescendo e de repente já são três, quatro gerações que estão ali, de olho no peru. Umas 30, 40 pessoas. E ali dá de tudo. Cunhados que não se falam, a velhinha que não escuta os planos do asilo, o fulano que está falido, coitado; a prima que está dando em cima de um sobrinho; aquele casal que está separado, mas que, no Natal, baixa o “espírito” e eles comparecem juntos. Todo mundo sabe que se odeiam. Mas é Natal. Aquele tio que deve tanto para o seu irmão também está lá. É Natal. E a irmã que não pagou o empréstimo feito em nome do tio-avô? Tudo é permitido. Afinal, é Natal. Nasceu quem mesmo? Jesus, não foi? E, por isso, à meia-noite, todos aqueles que ainda estão sóbrios, dão as mãos e rezam (des)unidos.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

VOVÓ ANTONIETA



          Ela mora numa pequena cidade do interior paulista, que ainda preserva algumas casas baixas, com janelões enfeitados de jardineiras floridas, apesar da fúria ensandecida daqueles que desprezando e desconhecendo o valor da preservação, põem abaixo a história da cidade.
          Numa cidade tranquila, onde os moradores saúdam-se uns aos outros, parando para trocar as últimas notícias, o povo sabe dos acontecimentos graças ao rádio, à televisão, aos jornais, mas principalmente às notícias levadas e trazidas ao pé do ouvido. Vários assuntos dominam as conversas.
          Dona Antonieta ou simplesmente Vovó Antonieta era avó de muitos netos, quase nonagenária, extremamente lúcida e atualizada, ficava sempre na janela, apreciando os acontecimentos e jogando conversa fora com os que passavam defronte à sua janela.
          Passaram-se duas semanas e Serafim deu falta de Dona Antonieta entre as coloridas onze-horas da jardineira de sua janela. Preocupado, perguntou aqui e ali, sem atrever-se a bater à porta. Ouviu defronte à farmácia, que ela estava recolhida, com olhar vago divisando o nada, e muito triste.
          O padre Januário, pároco cuidadoso e solícito, já a visitara. Quem sabe não teria sido para a unção dos enfermos, um prelúdio do encontro com a morte inevitável?
          Saindo da farmácia, Serafim encaminhou-se até ao coreto, onde uma roda de pessoas jogava conversa fora. Teve um grande susto. Soube que Dona Antonieta, muito deprimida, mandara chamar o padre porque cometera um pecado muito grave. Impossível, matutava Serafim; uma senhora como Vovó Antonieta, que não atravessa o portão da rua, convivente, bondosa, não pode ter transgredido algum mandamento religioso.
          Qual seria o pecado, remoia o curioso Serafim. Depois de muito papo, revelou-se o mistério. Soube-se pelo professor Martins que Dona Antonieta teria desejado a morte, um desejo pecaminoso: “quero morrer o quanto antes...”
          Qual seria o motivo para tal desatino, perguntou Serafim ao professor Martins. O professor fitou-o com um olhar profundo e, sisudo, respondeu: Não consegue levantar a cabeça e nem aparecer em público depois que ficou sabendo que aquele prédio, ao lado de sua casa, que herdara de seu finado marido, onde vivera quase toda a sua vida, onde criou seus filhos e netos, e que só vendera, por necessidade, com a palavra empenhada do comprador de preservá-lo, seria demolido para a construção de um moderno prédio comercial.
          “Quem não guarda o passado não garante o futuro”

sábado, 14 de novembro de 2009

JÁ NÃO HÁ MAIS BARBEIROS...



           Se aquela cadeira falasse... Sentaram-se nela, várias pessoas. Algumas importantes, outras nem tanto. Prefeitos, vereadores, professores, doutores, padres, estudantes, mecânicos, gerentes de banco, caminhoneiros, boleiros, boêmios; bons e maus pagadores... Hoje, aquela mesma cadeira permanece na ativa. Talvez não com aquele glamour de outrora.
          Garotinho ainda, entre 06 e 07 anos, o “Salão Central” era meu ponto favorito na praça, além do que o barbeiro era meu pai. Mas não era só por isso. Gostava de ver meu pai trabalhando. Gostava de ouvir histórias, causos, novidades, que a toda hora chegavam pelos fregueses. Gostava de sentar-me naquela cadeira de couro vermelho e me fazer girar, mas também não escapava de varrer o chão de ladrilhos brancos e vermelhos gastos pelo tempo e que ficavam cobertos de cabelos. Isso sempre me rendia uns trocados.
          Era um ambiente quase que exclusivamente masculino o que fazia com que eu me sentisse um homem naquele local. Ficava imaginando quando é que eu iria fazer a barba com aquelas navalhas... Esse ambiente de “homens” às vezes era quebrado por alguma mãe que levava o filho pelo braço e dizia ao meu pai: Paulico, corta americano! Não sei se aquilo era um castigo para o filho; a cabeça toda raspada, preservando aquele topetinho no alto, era o fim, mas fazer o que.
          Pra não acompanhar a tosa pelo espelho, com os olhos buscavam outras coisas pelo salão, como folhinhas, cartazes, desenhos. Lembro-me de alguns, como o amigo da onça, bem de vida, cercado de mulheres e ao lado um mendigo, com seu saquinho às costas e o amigo da onça dizendo "ele fez fiado". Lembro-me também dos perfumes, lembrança que vem do olfato: Água Velva. Ainda hoje, fecho os olhos e sinto o perfume daqueles vidrinhos verdes, amarelos e vermelhos.
          Outra lembrança bem viva é o nome do fabricante da cadeira de barbeiro gravado no apoio dos pés, que na realidade eu lia bem porque não alcançava o apoio e meu pai colocava uma tábua sobre os braços da cadeira para que eu ficasse na altura para possibilitar o corte do cabelo.
          Acho que o nome FERRANTE foi a primeira palavra que aprendi a ler. Este nome forte e marcante ficou em minha memória.

Já não há barbeiros
Nem cadeiras de barbeiro,
Onde nos possamos sentar
E olhar, o olhar do nosso olhar
Refletido no espelho
Da cadeira do barbeiro,
Onde rasam tesouras rente às orelhas,
Enquanto nos sentamos
Na cadeira do barbeiro,
E pensamos em tudo e em tudo
Porque temos tempo para pensar
Para refletir e analisar
Quando estamos sentados
Na cadeira do barbeiro,
Sem outro remédio senão
Fitarmo-nos continuamente
E ver quem fomos, quem somos
E quem viremos a ser
Num mundo onde já não há
Cadeiras de barbeiro.

SAUDADES DA INDIGNAÇÃO



          Pertenço a uma geração que deixou e sente saudades. Tínhamos respeito, educação, charme e muito romantismo. Tivemos também momentos de turbulência, agitação, mas soubemos enfrentar, mesmo “caminhando contra o vento, sem lenço e sem documentos, nada nos bolsos ou nas mãos” – como dizia Caetano Veloso – e, vencíamos. Tínhamos dignidade. Éramos jovens sonhadores e idealistas, sem apelos desenfreados e sabendo que a pressa não era uma solução e nada resolveria como num passe de mágica.
          Hoje o despreparo e passividade de expressiva parcela do eleitorado realmente não têm limites. Votam em analfabetos, não exigem qualificação alguma do candidato e aceitam serem chamados de imbecis, de ignorantes e do que mais vier. Não entendem a ofensa, não percebem o desaforo, não ligam! Escrúpulos às favas, apoios irresponsáveis e bravatas popularescas tornaram-se tão comuns que já não causam espanto ou indignação. Não se vê reação...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

FESTA DA UVA EM SÃO MIGUEL ARCANJO !?!



          Mais uma Festa da Uva se aproxima. Quais seriam as novidades deste ano? Na última vez, quando lá estive, tinha a competição de MotoCross, uma arena de rodeio, o parque de diversões e as barracas, algumas vendendo produtos do Paraguai. Um restaurante de comida japonesa e o barracão de exposição de frutas.
          Outro fato que me chamou a atenção foi que as atividades desenvolvidas no recinto (exposição, rodeio e MotoCross), eram totalmente distintas, desagregadas, sem interação entre elas. (se é que rodeio tem interação com alguma coisa).
          Isso me faz lembrar de algumas festas na região: A Festa do Vinho em São Roque, a Festa do Morango em Atibaia e da Alcachofra em Piedade. Em todas elas, as atividades secundárias estão apoiadas e diretamente calcadas no produto que é a atração principal de cada festa.
          Não tenho visto isso acontecer em nossa cidade. Muito pelo contrário. O que deveria ser o carro chefe da festa acaba ficando em segundo plano. A poeira e o barulho das motos incomodam quem está no restaurante ou no barracão das frutas. E o que dizer desse espetáculo deprimente que é o rodeio. Não consigo entender o por quê de incluir rodeio na festa da uva... Não sei qual é o valor investido pela prefeitura em cada um desses eventos, mas bem que poderia redirecionar esse investimento para que a “Festa da Uva” seja realmente a festa da uva. E que seja realmente melhor a cada ano. Melhor na estrutura, melhor na divulgação, melhor no acolhimento ao turista.
          Vamos deixar essa coisa medonha que é o rodeio fora da festa. Para diversão já existe o parque, as atrações musicais e outras coisas que podem ser utilizadas para esse fim. Não há a necessidade de se apresentar esse “espetáculo” deprimente chamado rodeio. Se não, estaremos mais uma vez na contramão da história. Enquanto mais e mais cidades (inclusive nos EUA) de onde se importou essa praga, proíbem a realização desse espetáculo desumano, temos em São Miguel esse evento associado à uma das principais, senão a principal, realização festiva da nossa cidade. Uma pena!
          E isso me faz pensar que a nossa querida São Miguel Arcanjo ainda procura a sua verdadeira vocação... O título de “Capital da Uva Itália” uma vez sonhado e idealizado lá nos anos 70, perde força, a medida que cidades vizinhas, como Pilar do Sul, por exemplo, ganham terreno. Talvez seja apenas uma questão de foco, de prioridades.
          Não custa lembrar que o meio mais barato de se atrair investimento e gerar renda ainda é a cultura. Investir em cultura é preservar a sua identidade e sua história. Divulgar essa cultura é fomentar o turismo, e isso gera empregos. Gerando empregos com turismo e cultura, está se preservando a nossa história. Isso é um circulo vicioso positivo. Alguns municípios fazem disso uma fonte de renda, outros... fazem rodeios.




sábado, 31 de outubro de 2009

FINADOS



        O medo dos defuntos se mistura com a saudade desde os primórdios da humanidade. Acenando para outra possível vida futura, as pirâmides do Egito consagraram mortos ilustres, como os faraós e seus familiares. Hoje erguem-se campos-santo arborizados ou mausoléus com esculturas onde repousam os restos mortais dos que se foram. E mais recentemente entre nós, adotou-se também a cremação de corpos, sendo as cinzas espalhadas por monumentos naturais que eles amaram em vida, como mares, florestas e outros.
        E a lembrança dos mortos ganhou dia especial, Finados. Inúmeros devotos comparecerão aos cemitérios para rezar, acender velas e levar flores, recordando seus entes queridos.
        Segundo a lenda, sempre chove no dia 2 de novembro. Na falta de outras explicações para o fenômeno meteorológico, apela-se para interpretações folclóricas muito interessantes. Uma delas diz que chove porque a tristeza dos que perderam pessoas queridas desce dos céus sob a forma de água para lavar as mágoas dos que continuam vivendo na terra.
        De qualquer modo, é sempre bom lembrar os mortos que permanecem vivos na memória de muitos por seus exemplos de vida. Parece que, em nosso mundo atual, andam fazendo falta tantas pessoas que partiram...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

31 DE OUTUBRO É DIA DO SACI



     31 de outubro, é comemorado o Dia do Saci, para homenagear um tradicional personagem do folclore brasileiro. A data escolhida coincide com o Halloween, o Dia das Bruxas, famoso nos Estados Unidos.
     “A data foi escolhida propositalmente para chamar a atenção dos brasileiros. O Dia do Saci foi criado como movimento para defesa de mitos nacionais. Considero que temos que divulgar e promover a nossa cultura”, diz Mário Candido da Silva Filho, presidente da Sociedade de Observadores de Saci (Sosaci).
     De acordo com ele, a Sosaci não tem a intenção de barrar a comemoração do Halloween. “Cada vez mais as crianças fazem cursos de inglês e, por meio deles, o Dia dos Bruxas foi difundido no país. Não temos a intenção de lutar contra a cultura de outros povos, apenas lutamos a favor da nossa”, diz. 

     Lenda
     De acordo com o presidente da Sosaci, desde que a lenda do Saci Pererê surgiu, ela sofreu alterações. “No início, ele era um garoto indígena, com duas pernas e que gostava de fazer brincadeiras, como dar nó na crina do cavalo, jogar sal na comida. Sem maldade, apenas traquinas”, afirma.
     Depois, com a chegada dos negros ao Brasil, a lenda teria sofrido alterações. “Passou a ser negro, ter uma perna só, usar gorro e fumar cachimbo.”
     Segundo Silva Filho, o Saci não é um personagem “do mal”, é apenas travesso. “Associar o Saci à imagem de demônio não é válido. Pela lenda, ele é um menino sapeca que preferiu ser livre em vez de viver na senzala nos tempos de colonização do Brasil. A história sofreu alterações. Cada um cria sua imagem do Saci”, completa.

domingo, 25 de outubro de 2009

NEM MUSEU, NEM CENTRO CULTURAL



      Recuperação da Rua João Cereser, pela Secretaria de Obras, reforma da quadra do CERI Ari Monteiro Galvão (atrás do Gomide),  denominação das ruas no Jardim Califórnia e  providenciar um local para centralizar e contabilizar os trabalhos do censo demográfico, previsto para acontecer no próximo ano. Essas seriam as prioridades para este fim de ano e para o próximo.
     O balde de água fria nos intelectuais da cidade foi o tamanho do “não” para a área cultural. Segundo informações, a administração estaria dando atenção a outras prioridades que não incluem museu municipal ou centro cultural, pelo menos para este ano e para o ano que vem. Entretanto, o prefeito não se esquivou de voltar a tratar do assunto em outra oportunidade, preterindo a conversa por conta das outras prioridades.
     Quanto a possibilidade da utilização do casarão da antiga Empresa Sul Paulista como Casa de Cultura ou Museu Municipal, o prefeito disse estar disposto a interceder junto aos proprietários do imóvel, o que seria importante para o próprio tombamento do patrimônio com mais de cem anos. Mas para isso seria necessário que tivéssemos em nossa cidade uma “lei de tombamento”. Se não, corremos o risco de vermos aquele prédio centenário ter o mesmo destino de outros prédios da cidade, que quando não são demolidos, são totalmente descaracterizados, como a velha cadeia (atual biblioteca).
     Outra aspiração do pessoal ligado à cultura seria a utilização do prédio do matadouro, abandonado há muitos anos, na saída para Santa Cruz. O prefeito foi enfático e disse: “não há no momento nenhum plano para destinação do mesmo”.
     Ao longo de muitos anos nenhum prefeito abriu mão do prédio velho do matadouro para fazer sequer um arrasta-pé beneficente. Guardam (?) à sete chaves o patrimônio público, e este aos poucos também vai se descaracterizando e sofrendo toda a sorte de vandalismo.
     Outro prédio não tão antigo, mas que também poderia ser aproveitado, mas que está tendo o mesmo destino do velho matadouro é o prédio do antigo poço artesiano, na saída para Capão Bonito.
     Pelo visto, os requerimentos encaminhados ao executivo por enquanto ainda não conseguiram sensibilizá-lo da importância de uma casa de cultura e de um museu municipal, muito menos fazê-lo entender o quanto isso é importante para uma cidade em desenvolvimento, como São Miguel Arcanjo que tem como aspiração ser um pólo turístico na região, mas que não consegue olhar com o devido respeito para a sua própria história.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ESTELIONATO ESPIRITUAL


     Alguns dicionários definem a palavra fanatismo como um zelo religioso obsessivo ou faccionismo partidário que podem levar a extremos de intolerância. É o caso das torcidas organizadas que chegam a brigas sangrentas e até a homicídios. Nociva também seria a adesão cega a algum princípio religioso. Os exemplos se multiplicam. Semana passada um pai deixou a filha morrer, pois se recusou a usar a medicina por acreditar no poder de sua oração para conseguir a cura. Há também um segmento de crentes que se recusa a permitir a transfusão de sangue por acreditar que nele estaria localizada a alma.
     Com frequência surgem pregadores que prometem intervenção divina para solucionar problemas financeiros ou de saúde que acometem seus fiéis. Alguns vendem esses pseudomilagres e acabam caindo em um estelionato espiritual, pois não têm como entregar a mercadoria por muitos comprada. Outros, agindo de boa fé, acabam imaginando que Deus pode ser convocado a qualquer momento para saldar dívidas contraídas por erro de cálculo ou para recuperar de alguma doença aqueles que deixam de recorrer aos tratamentos convencionais. Eximem-se da responsabilidade de andar com as próprias pernas e de sustentar-se com o suor do rosto, como recomenda sabiamente a Bíblia. E ainda insistem em tomar o santo nome de Deus em vão.
     A crendice e o fanatismo sufocam. Se eles são uma doença mental, seria necessário que os seus portadores procurassem uma terapia. O que nem sempre acontece. Os paranóicos às vezes encontram segurança nessas enfermidades e delas tiram algum proveito.
     Algumas atitudes inadequadas podem também ser fruto da recusa ao exercício de pensar, refletir, ouvir, perceber as diferenças e outros mundos. O fanático perde ou renuncia a liberdade de pensar. O fanático é uma pessoa humanamente muito pobre.
     O professor Alceu de Amoroso Lima afirmava preferir o ateu ao crendeiro. Ele comparava o primeiro a uma terra nua. E o outro, ele o tinha como um campo cheio de espinhos e de ervas daninhas. Quando surge uma boa semente no campo nu, ela florece e produz muito fruto. A mesma semente lançada no outro campo acaba asfixiada antes de germinar.
     Mas, felizmente, enquanto houver esforço para reflexão e diálogo, os fanáticos não estarão reinando absolutos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

APRENDER A FICAR DE PÉ



Henri de Lubac, um dos teólogos católicos mais eminentes do século XX, falecido em 1991 ensinava que seria uma insanidade anunciar a boa nova do paraíso a quem estivesse padecendo os sofrimentos da fome. O faminto não tem ouvidos para ouvir e nem para entender mensagens místicas. Antes de falar de Deus e de justiça é preciso matar a fome de quem não dispõe de recursos para saciá-la.
Fora disso, o cidadão não deve ser mantido em pé, mas precisa aprender a ficar de pé.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

TIO MIGUER E O NHEENGATU



Semana passada recebi convite do maestro Ricardo Anastácio para o lançamento do documentário “Nheengatu”. O local era o mais apropriado e acolhedor possível: “Quintal da Biblioteca Infantil”, debaixo de uma lona de circo... Na chegada encontrei-me com o maestro que foi logo dizendo: tem um conterrâneo seu no filme. E qual não foi minha surpresa quando num determinado trecho do documentário, eis que aparece o poeta são-miguelense "Tio Miguer" ou professor Miguel dos Santos Terra, como um dos personagens principais do filme “Nheengatu” produzido pelo maestro, sob patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Na película, o poeta é mostrado contando causos registrados por ele mesmo quando professor no Vale do Ribeira e faz comentários sobre a etimologia das palavras Saci Pererê e Saci Saperê. "Tio Miguer" se apresenta ao lado de pessoas influentes na língua autóctone paulista, incluindo o violeiro Tinoco que fala da sua miscigenação espanhola e mameluca.
O “nheengatu” é a fala do caipira paulista. A miscigenação do tupi-guarani na língua portuguesa resultou nesse idioma sonoro praticado pelo povo da roça, herdeiro do mais autêntico linguajar deixado pelos índios catequizados pelos padres jesuítas. A partir do final do século XVIII o idioma foi proibido pelo Marquês de Pombal, em nome do rei Dom José I, proibiu o ensino e o uso do tupi em todo o território nacional, instituindo o português como única língua do Brasil, mas a força das palavras ultrapassou os limites da proibição e continua viva em muitos termos usados no dia-a-dia do povo paulista em todos os níveis da sociedade. O dialeto foi então resgatado como vocabulário de uso corrente e se fixou no inconsciente coletivo fazendo parte da fala diária do cidadão paulista e paulistano.
O documentário com a participação do "Tio Miguer" está fazendo turnê em escolas, feiras e simpósios da região. Segundo o maestro Ricardo Anastácio a sua intenção é apresentar esse trabalho também em São Miguel Arcanjo. O filme Nheengatu, além da questão da fala, aborda aspectos místicos e lendas rurais, incluindo histórias dos caiçaras, construtores de rabecas de Cananéia e de outras regiões do Vale do Ribeira.
A participação do professor Miguel dos Santos Terra é tão importante quando à do poeta Tio Miguer, em dois aspectos. Como professor ele explica a morfologia das palavras de homens e mulheres da zona rural. Como poeta, registra essa fala de forma sublimada através dos seus poemas, que sem dúvida alguma, são escritos em puro “nheengatu”, a língua sonora do caipira paulista.
Com cerca de quarenta minutos de duração o documentário mostra ainda as belezas da Fazenda Ipanema com a primeira fábrica de ferro criada por D. João VI, os bandeireiros do Divino da região de Tatuí e todo o resgate do trabalho do escritor Cornélio Pires, através do museu do mesmo nome que centraliza todas as outras obras do autor em Tietê, sua cidade natal.
Ainda há tempo de um contato com o maestro Ricardo Anastácio para que o povo possa ver a performance do "Tio Miguer" no documentário e saber definitivamente porque todos nós temos uma forma diferente de falar com relação às pessoas dos outros estados do Brasil.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

POVO SEM MEMÓRIA, POVO SEM HISTÓRIA



Andando pelas ruas de nossa cidade percebemos que muita coisa mudou. A cidade cresceu. Seus limites foram ampliados, da mesma forma que foram ampliadas suas pretensões de crescimento e progresso. É a realidade de nosso tempo.
Ainda é possível saborear algumas lembranças vivas, mas é também triste passar por um local e dizer: “aqui tinha isso, ali era aquilo”. Há muita coisa por trás de um prédio que não existe mais. Demolir ou descaracterizar um prédio é também destruir ou descaracterizar parte da história de muitas pessoas que viveram naquela época e ajudaram a construir nossa cidade.
Infelizmente, não temos em São Miguel Arcanjo uma cultura de preservação de sua história e seus costumes. Apesar de ser uma cidade relativamente nova, pouco resta da antiga São Miguel. E o que resta não é respeitado... Casarões são postos a baixo sem a menor cerimônia, em nome do progresso, da necessidade e interesses comerciais...
Recentemente o prédio da antiga cadeia pública foi literalmente “anexado” ao prédio da Câmara Municipal, descaracterizando e comprometendo totalmente aquele que talvez seja o mais antigo edifício de nossa cidade.
Um pouco antes, rumores davam conta de que havia intenção das autoridades católicas do município em se retirar (demolir) a mesa de comunhão da igreja, sob a alegação de que ela não é mais utilizada nas liturgias. Pretendiam também meter a picareta no antigo piso de mosaico português que reveste toda a igreja. Felizmente isso não ocorreu (pelo menos por enquanto...).
O ímpeto por se destruir, modificar ou descaracterizar sem o menor pudor é algo preocupante, pois denota irresponsabilidade, mesmo que seja por desconhecimento de causa.
Quando não preservamos nossa história, perdemos nossas tradições e o que é pior: desrespeitamos o nosso maior patrimônio que são seus moradores;
É preciso pensar no progresso, sem dúvida. Mas é preciso antes um planejamento estratégico e específico focado no futuro, não descuidando da memória, da história e do patrimônio de um povo como o nosso que fundou essa cidade há cento e vinte anos, para termos a chance de transformá-la, porém sem desrespeitá-la.
Agora, notícias recentes dão conta da intenção de se demolir a capela do bairro de Santa Cruz dos Matos. Qual o motivo? Oferece risco aos fieis? Existe um estudo abalizado sobre essa necessidade? Os moradores foram consultados?
Será que não chegou a hora da comunidade, particularmente os três poderes que se constituem como os guardiões da administração pública (Prefeitura, Câmara e Poder Judiciário) chamarem para si a responsabilidade pelo futuro de nossa cidade, zelando pela preservação do presente sem desrespeitar nosso passado?
Do contrário, sem planejamento, sem preservar o que ainda temos e sem resgatar o que é possível, nosso futuro será cada vez mais pobre em termos de patrimônio, senão o valor estético, artístico, documental, científico, social, espiritual ou ecológico de nossa sociedade não terá passado apenas da fugacidade de uma época.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

MEU SUPER-HEROI



Miguel, meu super-heroi Miguel.

Me perdoe a intimidade. Já me disseram que esse não é modo de se falar com um Arcanjo.
Mas, eu não sei muito bem o que é um Arcanjo.
Nos tempos de coroinha, falavam que Arcanjo é posição lás das alturas, bem pertinho de Deus. Só de pensar, dá arrepio.
Meu super-heroi Miguel: não me leve a mal nem pense que é desrespeito um tratamento assim, sem aquela cerimônia que a Igreja exige. Você é meu super-herói e pronto. Desculpe, mais uma vez, essa minha intimidade. Mas, desde os sete anos de idade nem o Super-Homem, nem Tarzan, nem o Homem Aranha, nem o Capitão Marvel, nem o Capitão América me fascinavam tanto quanto a sua imponência lá no altar. Você superava todos como o meu super-heroi.
Muitas vezes, eu quis que você descesse do andor ou do altar e me ensinasse a voar. Ah, se eu voasse, seria melhor goleiro que o Dito Torto, assim chamado por causa do pescoço torto e duro, que envesgava sua cabeça para um lado só. Ele ficou na história do Esporte Clube São Miguel, porque fazia milagres embaixo do gol. Também pensei, meu super-herói Miguel, em pedir sua espada emprestada para defender minha cidade se houvesse uma guerra com Pilar do Sul. A balança eu queria para pesar batata para minha avó no armazém do Nestor Fogaça. Eu tinha certeza de que haveria o milagre de dez batatas pesarem apenas cinco. Outro sonho meu era nos dias de procissão desfilar ao seu lado no andor e acenar para a Carmem Fogaça, a garota que eu amava de longe na hora do recreio do Grupo Escolar.
Ah, meu super-heroi Miguel, confesso que estou com saudades.
Todo dia 29 de Setembro é assim: eu fico um pouco triste pelo tempo que passa e leva as crianças embora.

 (Do blog arraialdesaomiguel.blogspot.com de Miguel Arcanjo Terra)

sábado, 26 de setembro de 2009

Professora Míriam e Professor Waldemar



Professor Waldemar e Professora Miriam estiveram na semana passada em São Miguel Arcanjo na festa de confraternização dos formandos de 1977. Entre tantos, foram sem dúvida os mais festejados e cortejados. Passados tantos anos, ainda são lembrados e respeitados como os grandes mestres que por aqui passaram.
Lembro-me do professor Waldemar que mesmo durante o inverno rigoroso de São Miguel, estava sempre de camisa de mangas curtas e sem blusa. Não usava a lousa nem livros e quando entrava na sala de aula, trazia apenas a caderneta de chamada, nada mais. Ditava toda a matéria, andando de um lado para outro na sala.
Dona Miriam tinha sua sala particular, no final do corredor. Foi responsável pela minha única “apresentação pública” quando tive que cantar o hino da bandeira lá na frente de todos e sob a batida do lápis sobre a mesa marcando o compasso... Também deu aulas de violão. Certa vez disse para mim: “Você tem jeito. Sabe como empunhar o violão”. Foi o mais longe que cheguei em minha carreira musical!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sem solução, apenas alívio...





Tenho levado uma vida normal, terrivelmente normal até. Meus cinquenta anos têm sido pontuados por experiências bem comuns. Desde que nasci tenho sido uma típica criatura do interior, com uma vida que ressoa a árvores e regatos. Não gosto das ditas cidades grandes.
Já fumei, hoje não fumo mais; consequência de uma promessa, dos tempos em que acreditava em milagres. Mas um uisquezinho vai bem.
Às vezes ainda sonho. Que minha vida um dia ainda será grande. Tenho vontade de ir aonde jamais alguém foi, e consequentemente nesse lugar não haverá ninguém. Desejo de fazer uma obra que fique para a posteridade. Trazer a felicidade a alguém. E depois sumir.
A cidade é ruim para alguém que tem sonhos assim como os meus. É um lugar perdido, longe do mar, longe dos campos e longe dos momentos em que a vida se resolve e os desejos tornam-se realidade. Vivem aqui milhares de pessoas tristes, feias, apressadas, desprovidas de gosto e de saudades verdadeiras. Gente que anda corretamente dentro dos velhos limites e incorretamente dentro de novos limites. E que não conhecem nenhuma poesia. Gente que trabalha, que diz uma coisa e faz outras. Gente que vai à missa de manhã e peca à noite. Gentes que se acham, como diz meu filho.
Nesse imenso amontoado de prédios feios circundados por uma floresta de casinhas baixas e feias, a minha vida escorre preguiçosamente enquanto meus sonhos vão lentamente desbotando, murchando, quase morrendo no
dia-a-dia.
Tenho uma vida comum. Todas as manhãs sou acordado pelo canto dos pássaros e também pelo ronco de carros e motos e, com os meus sonhos cortados ao meio, desço para a minha vida. Isso é frustrante, às vezes. Antigamente era o apito da fábrica que me acordava. Hoje não existem mais, nem o apito nem a fábrica.
Os bailes de sábado agora acontecem quase todos os dias. Mas os salões estão mais vazios e as mentes das pessoas menos dispostas a sorrir.
Percebo que minha geração é saudosista. O que sobrou de planos desfeitos sobrevoando as cabeças dos jovens agora produz músicas, poesias; que não trazem solução, mas aliviam.




Terra minha

No temporal dos anos,
Um mal estar na alma numa noite sem estrelas
A hora impensada da partida...
Garoa, chuva, pés no chão.
Noite fechada com janelas abertas...
Cadeiras na calçada,
Violinos e serenatas,
Lembranças de uma infância de aventuras romanceadas.
Sonhos coloridos sem compromissos.
Coniventes, sabíamos de nossos sonhos...
Meus e teus segredos.
Condenado às lembranças,
Como o vulto de uma rua inexistente.
Quizera compreender a emoção antiga (já tão distante)
Das manhãs claras, jardins molhados e bancos frios...
Entendi enfim, com a serenidade de uma alma alva, que
Procurei noutras o que só em ti havia