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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

MEU SUPER-HEROI



Miguel, meu super-heroi Miguel.

Me perdoe a intimidade. Já me disseram que esse não é modo de se falar com um Arcanjo.
Mas, eu não sei muito bem o que é um Arcanjo.
Nos tempos de coroinha, falavam que Arcanjo é posição lás das alturas, bem pertinho de Deus. Só de pensar, dá arrepio.
Meu super-heroi Miguel: não me leve a mal nem pense que é desrespeito um tratamento assim, sem aquela cerimônia que a Igreja exige. Você é meu super-herói e pronto. Desculpe, mais uma vez, essa minha intimidade. Mas, desde os sete anos de idade nem o Super-Homem, nem Tarzan, nem o Homem Aranha, nem o Capitão Marvel, nem o Capitão América me fascinavam tanto quanto a sua imponência lá no altar. Você superava todos como o meu super-heroi.
Muitas vezes, eu quis que você descesse do andor ou do altar e me ensinasse a voar. Ah, se eu voasse, seria melhor goleiro que o Dito Torto, assim chamado por causa do pescoço torto e duro, que envesgava sua cabeça para um lado só. Ele ficou na história do Esporte Clube São Miguel, porque fazia milagres embaixo do gol. Também pensei, meu super-herói Miguel, em pedir sua espada emprestada para defender minha cidade se houvesse uma guerra com Pilar do Sul. A balança eu queria para pesar batata para minha avó no armazém do Nestor Fogaça. Eu tinha certeza de que haveria o milagre de dez batatas pesarem apenas cinco. Outro sonho meu era nos dias de procissão desfilar ao seu lado no andor e acenar para a Carmem Fogaça, a garota que eu amava de longe na hora do recreio do Grupo Escolar.
Ah, meu super-heroi Miguel, confesso que estou com saudades.
Todo dia 29 de Setembro é assim: eu fico um pouco triste pelo tempo que passa e leva as crianças embora.

 (Do blog arraialdesaomiguel.blogspot.com de Miguel Arcanjo Terra)

sábado, 26 de setembro de 2009

Professora Míriam e Professor Waldemar



Professor Waldemar e Professora Miriam estiveram na semana passada em São Miguel Arcanjo na festa de confraternização dos formandos de 1977. Entre tantos, foram sem dúvida os mais festejados e cortejados. Passados tantos anos, ainda são lembrados e respeitados como os grandes mestres que por aqui passaram.
Lembro-me do professor Waldemar que mesmo durante o inverno rigoroso de São Miguel, estava sempre de camisa de mangas curtas e sem blusa. Não usava a lousa nem livros e quando entrava na sala de aula, trazia apenas a caderneta de chamada, nada mais. Ditava toda a matéria, andando de um lado para outro na sala.
Dona Miriam tinha sua sala particular, no final do corredor. Foi responsável pela minha única “apresentação pública” quando tive que cantar o hino da bandeira lá na frente de todos e sob a batida do lápis sobre a mesa marcando o compasso... Também deu aulas de violão. Certa vez disse para mim: “Você tem jeito. Sabe como empunhar o violão”. Foi o mais longe que cheguei em minha carreira musical!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sem solução, apenas alívio...





Tenho levado uma vida normal, terrivelmente normal até. Meus cinquenta anos têm sido pontuados por experiências bem comuns. Desde que nasci tenho sido uma típica criatura do interior, com uma vida que ressoa a árvores e regatos. Não gosto das ditas cidades grandes.
Já fumei, hoje não fumo mais; consequência de uma promessa, dos tempos em que acreditava em milagres. Mas um uisquezinho vai bem.
Às vezes ainda sonho. Que minha vida um dia ainda será grande. Tenho vontade de ir aonde jamais alguém foi, e consequentemente nesse lugar não haverá ninguém. Desejo de fazer uma obra que fique para a posteridade. Trazer a felicidade a alguém. E depois sumir.
A cidade é ruim para alguém que tem sonhos assim como os meus. É um lugar perdido, longe do mar, longe dos campos e longe dos momentos em que a vida se resolve e os desejos tornam-se realidade. Vivem aqui milhares de pessoas tristes, feias, apressadas, desprovidas de gosto e de saudades verdadeiras. Gente que anda corretamente dentro dos velhos limites e incorretamente dentro de novos limites. E que não conhecem nenhuma poesia. Gente que trabalha, que diz uma coisa e faz outras. Gente que vai à missa de manhã e peca à noite. Gentes que se acham, como diz meu filho.
Nesse imenso amontoado de prédios feios circundados por uma floresta de casinhas baixas e feias, a minha vida escorre preguiçosamente enquanto meus sonhos vão lentamente desbotando, murchando, quase morrendo no
dia-a-dia.
Tenho uma vida comum. Todas as manhãs sou acordado pelo canto dos pássaros e também pelo ronco de carros e motos e, com os meus sonhos cortados ao meio, desço para a minha vida. Isso é frustrante, às vezes. Antigamente era o apito da fábrica que me acordava. Hoje não existem mais, nem o apito nem a fábrica.
Os bailes de sábado agora acontecem quase todos os dias. Mas os salões estão mais vazios e as mentes das pessoas menos dispostas a sorrir.
Percebo que minha geração é saudosista. O que sobrou de planos desfeitos sobrevoando as cabeças dos jovens agora produz músicas, poesias; que não trazem solução, mas aliviam.




Terra minha

No temporal dos anos,
Um mal estar na alma numa noite sem estrelas
A hora impensada da partida...
Garoa, chuva, pés no chão.
Noite fechada com janelas abertas...
Cadeiras na calçada,
Violinos e serenatas,
Lembranças de uma infância de aventuras romanceadas.
Sonhos coloridos sem compromissos.
Coniventes, sabíamos de nossos sonhos...
Meus e teus segredos.
Condenado às lembranças,
Como o vulto de uma rua inexistente.
Quizera compreender a emoção antiga (já tão distante)
Das manhãs claras, jardins molhados e bancos frios...
Entendi enfim, com a serenidade de uma alma alva, que
Procurei noutras o que só em ti havia