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sábado, 31 de outubro de 2009

FINADOS



        O medo dos defuntos se mistura com a saudade desde os primórdios da humanidade. Acenando para outra possível vida futura, as pirâmides do Egito consagraram mortos ilustres, como os faraós e seus familiares. Hoje erguem-se campos-santo arborizados ou mausoléus com esculturas onde repousam os restos mortais dos que se foram. E mais recentemente entre nós, adotou-se também a cremação de corpos, sendo as cinzas espalhadas por monumentos naturais que eles amaram em vida, como mares, florestas e outros.
        E a lembrança dos mortos ganhou dia especial, Finados. Inúmeros devotos comparecerão aos cemitérios para rezar, acender velas e levar flores, recordando seus entes queridos.
        Segundo a lenda, sempre chove no dia 2 de novembro. Na falta de outras explicações para o fenômeno meteorológico, apela-se para interpretações folclóricas muito interessantes. Uma delas diz que chove porque a tristeza dos que perderam pessoas queridas desce dos céus sob a forma de água para lavar as mágoas dos que continuam vivendo na terra.
        De qualquer modo, é sempre bom lembrar os mortos que permanecem vivos na memória de muitos por seus exemplos de vida. Parece que, em nosso mundo atual, andam fazendo falta tantas pessoas que partiram...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

31 DE OUTUBRO É DIA DO SACI



     31 de outubro, é comemorado o Dia do Saci, para homenagear um tradicional personagem do folclore brasileiro. A data escolhida coincide com o Halloween, o Dia das Bruxas, famoso nos Estados Unidos.
     “A data foi escolhida propositalmente para chamar a atenção dos brasileiros. O Dia do Saci foi criado como movimento para defesa de mitos nacionais. Considero que temos que divulgar e promover a nossa cultura”, diz Mário Candido da Silva Filho, presidente da Sociedade de Observadores de Saci (Sosaci).
     De acordo com ele, a Sosaci não tem a intenção de barrar a comemoração do Halloween. “Cada vez mais as crianças fazem cursos de inglês e, por meio deles, o Dia dos Bruxas foi difundido no país. Não temos a intenção de lutar contra a cultura de outros povos, apenas lutamos a favor da nossa”, diz. 

     Lenda
     De acordo com o presidente da Sosaci, desde que a lenda do Saci Pererê surgiu, ela sofreu alterações. “No início, ele era um garoto indígena, com duas pernas e que gostava de fazer brincadeiras, como dar nó na crina do cavalo, jogar sal na comida. Sem maldade, apenas traquinas”, afirma.
     Depois, com a chegada dos negros ao Brasil, a lenda teria sofrido alterações. “Passou a ser negro, ter uma perna só, usar gorro e fumar cachimbo.”
     Segundo Silva Filho, o Saci não é um personagem “do mal”, é apenas travesso. “Associar o Saci à imagem de demônio não é válido. Pela lenda, ele é um menino sapeca que preferiu ser livre em vez de viver na senzala nos tempos de colonização do Brasil. A história sofreu alterações. Cada um cria sua imagem do Saci”, completa.

domingo, 25 de outubro de 2009

NEM MUSEU, NEM CENTRO CULTURAL



      Recuperação da Rua João Cereser, pela Secretaria de Obras, reforma da quadra do CERI Ari Monteiro Galvão (atrás do Gomide),  denominação das ruas no Jardim Califórnia e  providenciar um local para centralizar e contabilizar os trabalhos do censo demográfico, previsto para acontecer no próximo ano. Essas seriam as prioridades para este fim de ano e para o próximo.
     O balde de água fria nos intelectuais da cidade foi o tamanho do “não” para a área cultural. Segundo informações, a administração estaria dando atenção a outras prioridades que não incluem museu municipal ou centro cultural, pelo menos para este ano e para o ano que vem. Entretanto, o prefeito não se esquivou de voltar a tratar do assunto em outra oportunidade, preterindo a conversa por conta das outras prioridades.
     Quanto a possibilidade da utilização do casarão da antiga Empresa Sul Paulista como Casa de Cultura ou Museu Municipal, o prefeito disse estar disposto a interceder junto aos proprietários do imóvel, o que seria importante para o próprio tombamento do patrimônio com mais de cem anos. Mas para isso seria necessário que tivéssemos em nossa cidade uma “lei de tombamento”. Se não, corremos o risco de vermos aquele prédio centenário ter o mesmo destino de outros prédios da cidade, que quando não são demolidos, são totalmente descaracterizados, como a velha cadeia (atual biblioteca).
     Outra aspiração do pessoal ligado à cultura seria a utilização do prédio do matadouro, abandonado há muitos anos, na saída para Santa Cruz. O prefeito foi enfático e disse: “não há no momento nenhum plano para destinação do mesmo”.
     Ao longo de muitos anos nenhum prefeito abriu mão do prédio velho do matadouro para fazer sequer um arrasta-pé beneficente. Guardam (?) à sete chaves o patrimônio público, e este aos poucos também vai se descaracterizando e sofrendo toda a sorte de vandalismo.
     Outro prédio não tão antigo, mas que também poderia ser aproveitado, mas que está tendo o mesmo destino do velho matadouro é o prédio do antigo poço artesiano, na saída para Capão Bonito.
     Pelo visto, os requerimentos encaminhados ao executivo por enquanto ainda não conseguiram sensibilizá-lo da importância de uma casa de cultura e de um museu municipal, muito menos fazê-lo entender o quanto isso é importante para uma cidade em desenvolvimento, como São Miguel Arcanjo que tem como aspiração ser um pólo turístico na região, mas que não consegue olhar com o devido respeito para a sua própria história.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ESTELIONATO ESPIRITUAL


     Alguns dicionários definem a palavra fanatismo como um zelo religioso obsessivo ou faccionismo partidário que podem levar a extremos de intolerância. É o caso das torcidas organizadas que chegam a brigas sangrentas e até a homicídios. Nociva também seria a adesão cega a algum princípio religioso. Os exemplos se multiplicam. Semana passada um pai deixou a filha morrer, pois se recusou a usar a medicina por acreditar no poder de sua oração para conseguir a cura. Há também um segmento de crentes que se recusa a permitir a transfusão de sangue por acreditar que nele estaria localizada a alma.
     Com frequência surgem pregadores que prometem intervenção divina para solucionar problemas financeiros ou de saúde que acometem seus fiéis. Alguns vendem esses pseudomilagres e acabam caindo em um estelionato espiritual, pois não têm como entregar a mercadoria por muitos comprada. Outros, agindo de boa fé, acabam imaginando que Deus pode ser convocado a qualquer momento para saldar dívidas contraídas por erro de cálculo ou para recuperar de alguma doença aqueles que deixam de recorrer aos tratamentos convencionais. Eximem-se da responsabilidade de andar com as próprias pernas e de sustentar-se com o suor do rosto, como recomenda sabiamente a Bíblia. E ainda insistem em tomar o santo nome de Deus em vão.
     A crendice e o fanatismo sufocam. Se eles são uma doença mental, seria necessário que os seus portadores procurassem uma terapia. O que nem sempre acontece. Os paranóicos às vezes encontram segurança nessas enfermidades e delas tiram algum proveito.
     Algumas atitudes inadequadas podem também ser fruto da recusa ao exercício de pensar, refletir, ouvir, perceber as diferenças e outros mundos. O fanático perde ou renuncia a liberdade de pensar. O fanático é uma pessoa humanamente muito pobre.
     O professor Alceu de Amoroso Lima afirmava preferir o ateu ao crendeiro. Ele comparava o primeiro a uma terra nua. E o outro, ele o tinha como um campo cheio de espinhos e de ervas daninhas. Quando surge uma boa semente no campo nu, ela florece e produz muito fruto. A mesma semente lançada no outro campo acaba asfixiada antes de germinar.
     Mas, felizmente, enquanto houver esforço para reflexão e diálogo, os fanáticos não estarão reinando absolutos.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

APRENDER A FICAR DE PÉ



Henri de Lubac, um dos teólogos católicos mais eminentes do século XX, falecido em 1991 ensinava que seria uma insanidade anunciar a boa nova do paraíso a quem estivesse padecendo os sofrimentos da fome. O faminto não tem ouvidos para ouvir e nem para entender mensagens místicas. Antes de falar de Deus e de justiça é preciso matar a fome de quem não dispõe de recursos para saciá-la.
Fora disso, o cidadão não deve ser mantido em pé, mas precisa aprender a ficar de pé.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

TIO MIGUER E O NHEENGATU



Semana passada recebi convite do maestro Ricardo Anastácio para o lançamento do documentário “Nheengatu”. O local era o mais apropriado e acolhedor possível: “Quintal da Biblioteca Infantil”, debaixo de uma lona de circo... Na chegada encontrei-me com o maestro que foi logo dizendo: tem um conterrâneo seu no filme. E qual não foi minha surpresa quando num determinado trecho do documentário, eis que aparece o poeta são-miguelense "Tio Miguer" ou professor Miguel dos Santos Terra, como um dos personagens principais do filme “Nheengatu” produzido pelo maestro, sob patrocínio da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Na película, o poeta é mostrado contando causos registrados por ele mesmo quando professor no Vale do Ribeira e faz comentários sobre a etimologia das palavras Saci Pererê e Saci Saperê. "Tio Miguer" se apresenta ao lado de pessoas influentes na língua autóctone paulista, incluindo o violeiro Tinoco que fala da sua miscigenação espanhola e mameluca.
O “nheengatu” é a fala do caipira paulista. A miscigenação do tupi-guarani na língua portuguesa resultou nesse idioma sonoro praticado pelo povo da roça, herdeiro do mais autêntico linguajar deixado pelos índios catequizados pelos padres jesuítas. A partir do final do século XVIII o idioma foi proibido pelo Marquês de Pombal, em nome do rei Dom José I, proibiu o ensino e o uso do tupi em todo o território nacional, instituindo o português como única língua do Brasil, mas a força das palavras ultrapassou os limites da proibição e continua viva em muitos termos usados no dia-a-dia do povo paulista em todos os níveis da sociedade. O dialeto foi então resgatado como vocabulário de uso corrente e se fixou no inconsciente coletivo fazendo parte da fala diária do cidadão paulista e paulistano.
O documentário com a participação do "Tio Miguer" está fazendo turnê em escolas, feiras e simpósios da região. Segundo o maestro Ricardo Anastácio a sua intenção é apresentar esse trabalho também em São Miguel Arcanjo. O filme Nheengatu, além da questão da fala, aborda aspectos místicos e lendas rurais, incluindo histórias dos caiçaras, construtores de rabecas de Cananéia e de outras regiões do Vale do Ribeira.
A participação do professor Miguel dos Santos Terra é tão importante quando à do poeta Tio Miguer, em dois aspectos. Como professor ele explica a morfologia das palavras de homens e mulheres da zona rural. Como poeta, registra essa fala de forma sublimada através dos seus poemas, que sem dúvida alguma, são escritos em puro “nheengatu”, a língua sonora do caipira paulista.
Com cerca de quarenta minutos de duração o documentário mostra ainda as belezas da Fazenda Ipanema com a primeira fábrica de ferro criada por D. João VI, os bandeireiros do Divino da região de Tatuí e todo o resgate do trabalho do escritor Cornélio Pires, através do museu do mesmo nome que centraliza todas as outras obras do autor em Tietê, sua cidade natal.
Ainda há tempo de um contato com o maestro Ricardo Anastácio para que o povo possa ver a performance do "Tio Miguer" no documentário e saber definitivamente porque todos nós temos uma forma diferente de falar com relação às pessoas dos outros estados do Brasil.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

POVO SEM MEMÓRIA, POVO SEM HISTÓRIA



Andando pelas ruas de nossa cidade percebemos que muita coisa mudou. A cidade cresceu. Seus limites foram ampliados, da mesma forma que foram ampliadas suas pretensões de crescimento e progresso. É a realidade de nosso tempo.
Ainda é possível saborear algumas lembranças vivas, mas é também triste passar por um local e dizer: “aqui tinha isso, ali era aquilo”. Há muita coisa por trás de um prédio que não existe mais. Demolir ou descaracterizar um prédio é também destruir ou descaracterizar parte da história de muitas pessoas que viveram naquela época e ajudaram a construir nossa cidade.
Infelizmente, não temos em São Miguel Arcanjo uma cultura de preservação de sua história e seus costumes. Apesar de ser uma cidade relativamente nova, pouco resta da antiga São Miguel. E o que resta não é respeitado... Casarões são postos a baixo sem a menor cerimônia, em nome do progresso, da necessidade e interesses comerciais...
Recentemente o prédio da antiga cadeia pública foi literalmente “anexado” ao prédio da Câmara Municipal, descaracterizando e comprometendo totalmente aquele que talvez seja o mais antigo edifício de nossa cidade.
Um pouco antes, rumores davam conta de que havia intenção das autoridades católicas do município em se retirar (demolir) a mesa de comunhão da igreja, sob a alegação de que ela não é mais utilizada nas liturgias. Pretendiam também meter a picareta no antigo piso de mosaico português que reveste toda a igreja. Felizmente isso não ocorreu (pelo menos por enquanto...).
O ímpeto por se destruir, modificar ou descaracterizar sem o menor pudor é algo preocupante, pois denota irresponsabilidade, mesmo que seja por desconhecimento de causa.
Quando não preservamos nossa história, perdemos nossas tradições e o que é pior: desrespeitamos o nosso maior patrimônio que são seus moradores;
É preciso pensar no progresso, sem dúvida. Mas é preciso antes um planejamento estratégico e específico focado no futuro, não descuidando da memória, da história e do patrimônio de um povo como o nosso que fundou essa cidade há cento e vinte anos, para termos a chance de transformá-la, porém sem desrespeitá-la.
Agora, notícias recentes dão conta da intenção de se demolir a capela do bairro de Santa Cruz dos Matos. Qual o motivo? Oferece risco aos fieis? Existe um estudo abalizado sobre essa necessidade? Os moradores foram consultados?
Será que não chegou a hora da comunidade, particularmente os três poderes que se constituem como os guardiões da administração pública (Prefeitura, Câmara e Poder Judiciário) chamarem para si a responsabilidade pelo futuro de nossa cidade, zelando pela preservação do presente sem desrespeitar nosso passado?
Do contrário, sem planejamento, sem preservar o que ainda temos e sem resgatar o que é possível, nosso futuro será cada vez mais pobre em termos de patrimônio, senão o valor estético, artístico, documental, científico, social, espiritual ou ecológico de nossa sociedade não terá passado apenas da fugacidade de uma época.