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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O NATAL ESTÁ CHEGANDO



          Dezembro está chegando e com ele o Natal. E como já disse uma vez, não gosto do Natal. Não chego a odiar, mas não gosto. Já gostei. Quando pequeno lembro que a árvore lá de casa era um “pinheirinho de verdade”, trazido todo ano por meu pai, não sei de onde, mas que juntamente com minha mãe e minha irmã gostávamos de preparar a árvore com dias de antecedência, inclusive com os algodões para “sinalizar a neve”. Gostava daquele clima natalino...
          Mas com o tempo, o Natal se transformou naquela época em que a solidariedade se se torna uma obrigação, cumprida sem o sentimento que deveria alimentá-la. Por isso, os orfanatos podem se encher de presentes, geralmente velhos e quebrados, e os hospitais podem ver trocado o perfume dos seus corredores e repletas de maçãs nas mesinhas de cabeceira dos internos e os asilos podem se encher de netos, reais ou postiços, e lembranças materiais, sem que os gestos sejam filhos da verdadeira solidariedade, aquela que jamais nasce da culpa.
          Talvez porque é aquela época em que aqueles que não participam das festas podem ampliar no coração o abismo que separa sua realidade do nada ou pouco ter da realidade do tudo ou quase tudo ter. Por isso, é honesto perguntar se a grande festa da humanidade não foi transformada numa afirmação de que as diferenças não existem e que não devem ser superadas, uma vez que fica a impressão de que toda mesa tem, ignorando-se que umas têm demais, outras têm de menos ou outras simplesmente não têm.
          E os shoppings e lojas durante a semana do Natal? Existe coisa mais horrível que aquele bando de falsos gordos (alguns nem tão gordos assim) com barbas brancas postiças e de coturnos. São constrangedores, dignos de um Papai Noel de mentirinha. Com suas roupas próprias para a neve, debaixo de um calor de 40 graus de dezembro. Sem falar naquelas insuportáveis “musiquinhas” tipo Jingle Bell.
          Mas o pior mesmo é a ceia propriamente dita. Com o passar dos anos, a família vai crescendo e de repente já são três, quatro gerações que estão ali, de olho no peru. Umas 30, 40 pessoas. E ali dá de tudo. Cunhados que não se falam, a velhinha que não escuta os planos do asilo, o fulano que está falido, coitado; a prima que está dando em cima de um sobrinho; aquele casal que está separado, mas que, no Natal, baixa o “espírito” e eles comparecem juntos. Todo mundo sabe que se odeiam. Mas é Natal. Aquele tio que deve tanto para o seu irmão também está lá. É Natal. E a irmã que não pagou o empréstimo feito em nome do tio-avô? Tudo é permitido. Afinal, é Natal. Nasceu quem mesmo? Jesus, não foi? E, por isso, à meia-noite, todos aqueles que ainda estão sóbrios, dão as mãos e rezam (des)unidos.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

VOVÓ ANTONIETA



          Ela mora numa pequena cidade do interior paulista, que ainda preserva algumas casas baixas, com janelões enfeitados de jardineiras floridas, apesar da fúria ensandecida daqueles que desprezando e desconhecendo o valor da preservação, põem abaixo a história da cidade.
          Numa cidade tranquila, onde os moradores saúdam-se uns aos outros, parando para trocar as últimas notícias, o povo sabe dos acontecimentos graças ao rádio, à televisão, aos jornais, mas principalmente às notícias levadas e trazidas ao pé do ouvido. Vários assuntos dominam as conversas.
          Dona Antonieta ou simplesmente Vovó Antonieta era avó de muitos netos, quase nonagenária, extremamente lúcida e atualizada, ficava sempre na janela, apreciando os acontecimentos e jogando conversa fora com os que passavam defronte à sua janela.
          Passaram-se duas semanas e Serafim deu falta de Dona Antonieta entre as coloridas onze-horas da jardineira de sua janela. Preocupado, perguntou aqui e ali, sem atrever-se a bater à porta. Ouviu defronte à farmácia, que ela estava recolhida, com olhar vago divisando o nada, e muito triste.
          O padre Januário, pároco cuidadoso e solícito, já a visitara. Quem sabe não teria sido para a unção dos enfermos, um prelúdio do encontro com a morte inevitável?
          Saindo da farmácia, Serafim encaminhou-se até ao coreto, onde uma roda de pessoas jogava conversa fora. Teve um grande susto. Soube que Dona Antonieta, muito deprimida, mandara chamar o padre porque cometera um pecado muito grave. Impossível, matutava Serafim; uma senhora como Vovó Antonieta, que não atravessa o portão da rua, convivente, bondosa, não pode ter transgredido algum mandamento religioso.
          Qual seria o pecado, remoia o curioso Serafim. Depois de muito papo, revelou-se o mistério. Soube-se pelo professor Martins que Dona Antonieta teria desejado a morte, um desejo pecaminoso: “quero morrer o quanto antes...”
          Qual seria o motivo para tal desatino, perguntou Serafim ao professor Martins. O professor fitou-o com um olhar profundo e, sisudo, respondeu: Não consegue levantar a cabeça e nem aparecer em público depois que ficou sabendo que aquele prédio, ao lado de sua casa, que herdara de seu finado marido, onde vivera quase toda a sua vida, onde criou seus filhos e netos, e que só vendera, por necessidade, com a palavra empenhada do comprador de preservá-lo, seria demolido para a construção de um moderno prédio comercial.
          “Quem não guarda o passado não garante o futuro”

sábado, 14 de novembro de 2009

JÁ NÃO HÁ MAIS BARBEIROS...



           Se aquela cadeira falasse... Sentaram-se nela, várias pessoas. Algumas importantes, outras nem tanto. Prefeitos, vereadores, professores, doutores, padres, estudantes, mecânicos, gerentes de banco, caminhoneiros, boleiros, boêmios; bons e maus pagadores... Hoje, aquela mesma cadeira permanece na ativa. Talvez não com aquele glamour de outrora.
          Garotinho ainda, entre 06 e 07 anos, o “Salão Central” era meu ponto favorito na praça, além do que o barbeiro era meu pai. Mas não era só por isso. Gostava de ver meu pai trabalhando. Gostava de ouvir histórias, causos, novidades, que a toda hora chegavam pelos fregueses. Gostava de sentar-me naquela cadeira de couro vermelho e me fazer girar, mas também não escapava de varrer o chão de ladrilhos brancos e vermelhos gastos pelo tempo e que ficavam cobertos de cabelos. Isso sempre me rendia uns trocados.
          Era um ambiente quase que exclusivamente masculino o que fazia com que eu me sentisse um homem naquele local. Ficava imaginando quando é que eu iria fazer a barba com aquelas navalhas... Esse ambiente de “homens” às vezes era quebrado por alguma mãe que levava o filho pelo braço e dizia ao meu pai: Paulico, corta americano! Não sei se aquilo era um castigo para o filho; a cabeça toda raspada, preservando aquele topetinho no alto, era o fim, mas fazer o que.
          Pra não acompanhar a tosa pelo espelho, com os olhos buscavam outras coisas pelo salão, como folhinhas, cartazes, desenhos. Lembro-me de alguns, como o amigo da onça, bem de vida, cercado de mulheres e ao lado um mendigo, com seu saquinho às costas e o amigo da onça dizendo "ele fez fiado". Lembro-me também dos perfumes, lembrança que vem do olfato: Água Velva. Ainda hoje, fecho os olhos e sinto o perfume daqueles vidrinhos verdes, amarelos e vermelhos.
          Outra lembrança bem viva é o nome do fabricante da cadeira de barbeiro gravado no apoio dos pés, que na realidade eu lia bem porque não alcançava o apoio e meu pai colocava uma tábua sobre os braços da cadeira para que eu ficasse na altura para possibilitar o corte do cabelo.
          Acho que o nome FERRANTE foi a primeira palavra que aprendi a ler. Este nome forte e marcante ficou em minha memória.

Já não há barbeiros
Nem cadeiras de barbeiro,
Onde nos possamos sentar
E olhar, o olhar do nosso olhar
Refletido no espelho
Da cadeira do barbeiro,
Onde rasam tesouras rente às orelhas,
Enquanto nos sentamos
Na cadeira do barbeiro,
E pensamos em tudo e em tudo
Porque temos tempo para pensar
Para refletir e analisar
Quando estamos sentados
Na cadeira do barbeiro,
Sem outro remédio senão
Fitarmo-nos continuamente
E ver quem fomos, quem somos
E quem viremos a ser
Num mundo onde já não há
Cadeiras de barbeiro.

SAUDADES DA INDIGNAÇÃO



          Pertenço a uma geração que deixou e sente saudades. Tínhamos respeito, educação, charme e muito romantismo. Tivemos também momentos de turbulência, agitação, mas soubemos enfrentar, mesmo “caminhando contra o vento, sem lenço e sem documentos, nada nos bolsos ou nas mãos” – como dizia Caetano Veloso – e, vencíamos. Tínhamos dignidade. Éramos jovens sonhadores e idealistas, sem apelos desenfreados e sabendo que a pressa não era uma solução e nada resolveria como num passe de mágica.
          Hoje o despreparo e passividade de expressiva parcela do eleitorado realmente não têm limites. Votam em analfabetos, não exigem qualificação alguma do candidato e aceitam serem chamados de imbecis, de ignorantes e do que mais vier. Não entendem a ofensa, não percebem o desaforo, não ligam! Escrúpulos às favas, apoios irresponsáveis e bravatas popularescas tornaram-se tão comuns que já não causam espanto ou indignação. Não se vê reação...

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

FESTA DA UVA EM SÃO MIGUEL ARCANJO !?!



          Mais uma Festa da Uva se aproxima. Quais seriam as novidades deste ano? Na última vez, quando lá estive, tinha a competição de MotoCross, uma arena de rodeio, o parque de diversões e as barracas, algumas vendendo produtos do Paraguai. Um restaurante de comida japonesa e o barracão de exposição de frutas.
          Outro fato que me chamou a atenção foi que as atividades desenvolvidas no recinto (exposição, rodeio e MotoCross), eram totalmente distintas, desagregadas, sem interação entre elas. (se é que rodeio tem interação com alguma coisa).
          Isso me faz lembrar de algumas festas na região: A Festa do Vinho em São Roque, a Festa do Morango em Atibaia e da Alcachofra em Piedade. Em todas elas, as atividades secundárias estão apoiadas e diretamente calcadas no produto que é a atração principal de cada festa.
          Não tenho visto isso acontecer em nossa cidade. Muito pelo contrário. O que deveria ser o carro chefe da festa acaba ficando em segundo plano. A poeira e o barulho das motos incomodam quem está no restaurante ou no barracão das frutas. E o que dizer desse espetáculo deprimente que é o rodeio. Não consigo entender o por quê de incluir rodeio na festa da uva... Não sei qual é o valor investido pela prefeitura em cada um desses eventos, mas bem que poderia redirecionar esse investimento para que a “Festa da Uva” seja realmente a festa da uva. E que seja realmente melhor a cada ano. Melhor na estrutura, melhor na divulgação, melhor no acolhimento ao turista.
          Vamos deixar essa coisa medonha que é o rodeio fora da festa. Para diversão já existe o parque, as atrações musicais e outras coisas que podem ser utilizadas para esse fim. Não há a necessidade de se apresentar esse “espetáculo” deprimente chamado rodeio. Se não, estaremos mais uma vez na contramão da história. Enquanto mais e mais cidades (inclusive nos EUA) de onde se importou essa praga, proíbem a realização desse espetáculo desumano, temos em São Miguel esse evento associado à uma das principais, senão a principal, realização festiva da nossa cidade. Uma pena!
          E isso me faz pensar que a nossa querida São Miguel Arcanjo ainda procura a sua verdadeira vocação... O título de “Capital da Uva Itália” uma vez sonhado e idealizado lá nos anos 70, perde força, a medida que cidades vizinhas, como Pilar do Sul, por exemplo, ganham terreno. Talvez seja apenas uma questão de foco, de prioridades.
          Não custa lembrar que o meio mais barato de se atrair investimento e gerar renda ainda é a cultura. Investir em cultura é preservar a sua identidade e sua história. Divulgar essa cultura é fomentar o turismo, e isso gera empregos. Gerando empregos com turismo e cultura, está se preservando a nossa história. Isso é um circulo vicioso positivo. Alguns municípios fazem disso uma fonte de renda, outros... fazem rodeios.