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quinta-feira, 31 de março de 2011

O QUE O SEU DEPUTADO ESTADUAL FAZIA NA NOITE DE TERÇA-FEIRA ENQUANTO VOCÊ ASSISTIA A FINAL DO BBB-11 ?


         Quando você imaginava que a classe política já estaria saciada e que tinha atingido o ápice em termos de ações contrárias ao interesse público e em favor de seus mesquinhos anseios particulares, depois dos 61,8% de aumento salarial, eis que mais uma farra com o dinheiro público se apresenta:

         Na última terça-feira (29), a Assembleia Legislativa de São Paulo encerrou a sessão ordinária após o anúncio da morte do ex-presidente José Alencar. Mas, à noite, os senhores deputados voltaram a se reunir para votar, sem alarde, projeto que dobra o número de assessores de 16 para 32. O projeto foi aprovado por 92 dos 94 deputados. Somente dois deputados foram contra: Major Olímpio (PDT) e Carlos Giannazi (PSOL).

         Com essa nova norma, cada parlamentar poderá ter até 32 assessores - hoje, o número não pode passar de 16. No total, os assessores parlamentares, que são contratados sem concurso público, podem saltar de 1.504 para 3.008. Os salários dos assessores variam de R$ 1.794,80 a R$ 4.384,32. O gasto com benefícios pode aumentar em até R$ 11,2 milhões.

         Sempre é bom lembrar que os senhores deputados estaduais de São Paulo embolsam hoje 10% de todo Orçamento da Assembleia Legislativa para 2011. Considerando os 13 meses de remuneração - incluindo salários e benefícios como auxílio moradia, verbas de gabinete e reembolso de passagens, hospedagens, combustível, telefones -, os 94 deputados terão à sua disposição R$ 67,6 milhões, 10% dos R$ 680 milhões que a Alesp terá para se manter ao longo deste ano.

         O restante do dinheiro, R$ 612,4 milhões, servirá para pagar os funcionários da Assembleia, conservar o prédio, fazer reformas e comprar o que for necessário, como móveis, materiais de escritório, alimentação etc, etc.

segunda-feira, 28 de março de 2011

POR QUE OS POLÍTICOS MENTEM ?


         Finalmente encontro a resposta para essa pergunta que tem torturado tantas almas inquietas. A razão é a mesma pela qual os carros usados em venda são quase todos uma porcaria: "A lei de Gresham". Quando um mercado oferece coisas ruins e boas pelo mesmo preço médio, os produtos de qualidade que não podem obter um preço melhor por esta tendem a sumir.

         No caso da política, o que ocorre é que as pessoas honestas observam o horror dos acordões e mensalões e preferem não participar do processo, pois não querem se sujar entrando nesse lamaçal. Desse modo, praticamente só mentirosos e ladrões entram na política. A honestidade não compensa: um político que não mente e não rouba não tem nenhuma vantagem sobre aquele que o faz. Aliás, um político mentiroso tem mais chances de ser eleito e reeleito. Por quê?

         Porque um político que diz que "vai acabar com a corrupção" só pode ser duas coisas, um ingênuo ignorante, ou um mentiroso canalha. Fazer política é, por definição, mentir; portanto alguém que se faz passar por honesto só pode ser o maior mentiroso do mundo. E, para o público, é preferível alguém que "rouba mas faz" do que alguém que vai desiludi-lo com falsas promessas de honestidade, para depois meter a mão na cumbuca. Melhor a "ladroagem honesta" do que a hipocrisia. Ética não vende na política.

         Além disso, dizemos que não gostamos de políticos safados e mentirosos, mas, na verdade, o público votante gosta de mentiras. A maior prova disso é que ladrões e corruptos são constantemente reeleitos. O público prefere um político que diz o que o povo quer ouvir, não a amarga verdade. Um candidato que promete "empregos, saúde e educação para todos" é mil vezes preferível aos olhos da maioria da população a um hipotético candidato que explicasse que o número de empregos pouco tem a ver com ações governamentais (salvo que se tratem de empregos públicos para parentes) ou que dissesse que não existe almoço grátis, quanto menos saúde e educação gratuita de qualidade para todos. O povo quer doce de leite, não leite de magnésia, mesmo que tenha dor de barriga depois. Assim, os realistas são rejeitados, os mentirosos prosperam.

         Isso, naturalmente, gera um círculo vicioso. Quanto mais nojenta a política, menos as pessoas honestas e sérias têm interesse em participar. Quantas moças virgens, castas e religiosas se prostituem para moralizar o negócio?

         A grande dúvida é: existe uma saída para isso? Ou é um defeito da própria democracia? Já Tocqueville, há duzentos anos, havia observado que os políticos tinham uma moral curiosamente mais flexível do que a do povo. Hoje a coisa está muito pior.
(Werinton Kermes)

quinta-feira, 17 de março de 2011

BETHÂNIA E O BLOG DE 1,3 MILHÃO


         Na manhã da última quarta-feira (16), o jornal "Folha de S. Paulo" publicou a notícia de que a cantora Maria Bethânia criará um blog dedicado à poesia. E, antes mesmo de o site ir ao ar, já está causando polêmica. O alto montante requerido para o projeto – e o fato de a artista, por ser nacionalmente conhecida, não precisar de incentivo público – chamou a atenção de milhares de usuários ao conseguir autorização do MinC para construir seu blog.

         A notícia repercutiu com força dentro do Twitter. Durante o dia inteiro o nome da cantora esteve entre os tópicos principais e a grande maioria das mensagens era contra a aprovação do Ministério da Cultura.

         Em comunicado divulgado no final da tarde de quarta-feira, o MinC afirmou que aprovou o projeto de Bethânia apoiado em "critérios técnicos e jurídicos" e que "rejeitar um proponente pelo fato de ser famoso, ou não, configuraria óbvia e insustentável discriminação".

         O Ministério da Cultura é chefiado por Ana de Hollanda, irmã do compositor Chico Buarque de Hollanda.

         O projeto original do blog "O mundo precisa de poesia", de Maria Bethânia, pedia permissão para captar a quantia de R$ 1.798.600,00 em patrocínio. Embora a proposta tenha sido autorizada pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, o valor foi reajustado para R$ 1.356.858,00.

         O site é inspirado no espetáculo “Bethânia e as palavras”, em que a artista recita poemas e trechos de textos de escritores como Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira e Sophia de Mello. A página será coordenada pelo antropólogo Hermano Vianna.

         Cada clipe terá cerca de dois minutos e poderá ser em cor ou em preto e branco. Na ficha com os dados básicos do projeto, disponível para consulta, há outra descrição da proposta: "A ideia é invadir a internet com lirismo, delicadeza e difundir a cultura na rede. Será um calendário virtual, que apresentará ao público 365 pílulas diárias de pura poesia."


         Maria Bethânia já esteve numa outra polêmica em 2008, quando pediu 1,8 milhão reais de renúncia fiscal, pela Lei Rouanet, para sua turnê junto a Omara Portuondo, cantora cubana. A princípio teve seu pedido negado pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC), que analisa os requerimentos: "O projeto previa uma receita de bilheteria equivalente ao valor pleiteado, o que tornaria desnecessária a utilização de incentivo fiscal na realização do evento", afirmou na ocasião.

         Entretanto, contrariando a análise da CNIC, o próprio ministro Juca Ferreira, que, à época, substituía o titular da pasta, Gilberto Gil – depois, seria efetivado no cargo – assinou o documento de aprovação. Em vez de 1,8 milhão de reais de incentivo fiscal, porém, a turnê de Maria Bethânia teve direito a 1,5 milhão.

sábado, 12 de março de 2011

ENQUANTO VOCÊ ACOMPANHAVA A APURAÇÃO DAS NOTAS DAS ESCOLAS DE SAMBA...

 Licitação suspeita de fraude foi vencida por dona de casa


As licitações que levaram a Polícia Civil e o Ministério Público a investigar o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, Barros Munhoz (PSDB), tiveram concorrência simulada e foram vencidas por empresas cujos donos eram laranjas.

A Folha revelou ontem (11/03), que Munhoz é acusado de participar do desvio de R$ 3,1 milhões da Prefeitura de Itapira (SP), município que administrou até 2004. Segundo a denúncia do Ministério Público, foram feitos dezenas de depósitos em dinheiro na conta do deputado, totalizando R$ 933 mil.

As quatro licitações investigadas foram vencidas pela Conservias, empresa que tinha como sócia uma dona de casa que vive na periferia de Campinas e diz nunca ter ido ao município de Itapira. Joleide Ramos Lima afirmou à Folha que apenas "emprestou" sua assinatura para abrir a empresa, e que nunca tratou de temas relacionados a ela.

Ela disse ter sido convencida a assinar os papeis pelo administrador de fato da empresa, José Cardoso, amigo da família havia 20 anos e que já morreu. A dona de casa afirmou ter sabido das supostas fraudes apenas quando foi chamada a depor na Promotoria.

Joleide também foi dona da empresa Coenter Construções Ltda., que participou de duas das quatro licitações, tendo sido derrotada. Na Coenter, ela tinha como sócio o marido, o pedreiro aposentado Orlando Lima.

O casal também nega qualquer participação na gestão da Coenter, tendo emprestado suas assinaturas para a abertura da empresa.

Para o Ministério Público, a empresa participou da licitação para simular a existência de concorrência.

O deputado diz que, à época, a empresa cumpriu todas as exigências e alega que os depósitos em sua conta são frutos de empréstimos e de sua atividade empresarial.

A Folha esteve no endereço indicado como última sede da Coenter, em Mogi Mirim (SP). No local há um terreno vazio, com mato alto. Três vizinhos disseram que nunca funcionou nenhuma empresa no local. A reportagem já havia visitado os endereços declarados pela Conservias, onde, segundo vizinhos, a empresa nunca funcionou.

Baseado em laudos do Instituto de Criminalística, o Ministério Público afirma que as propostas apresentadas por concorrentes diferentes nas quatro licitações foram redigidas na mesma máquina de escrever.

segunda-feira, 7 de março de 2011

REPÚBLICA DOS BANANAS


            Numa cena do filme “Wall Street”, Gordon Gekko, o personagem interpretado por Michael Douglas, a certa altura dispara: “A ganância é boa”. Oliver Stone, que escreveu os diálogos e dirigiu o filme, bem que poderia compor uma marchinha com esse bordão para o cordão do mensalão, que cada vez aumenta mais. Em plena festa de momo, surge mais uma denúncia recheada de vídeos dignos da mais pura pornografia moral que assola o meio político num país onde a verdade, mais do que a busca, é clamor de todos, só que jogo para poucos, do pensador mais famoso ao mais simples iletrado trabalhador deste pedaço de chão tupiniquim. Em meio a nossa folia de confetes e serpentinas, jogado num rodapé das páginas da grande imprensa – ocupada, é claro, com os desfiles de sambódromos -, surge a notícia sobre a “molhação de mão” da deputada federal Jaqueline Roriz, filha do manjado Joaquim Roriz. Pausa para outro refrão: “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí...”

         A gravação é de 2006, quando o paizão da nobre deputada era governador do Distrito Federal e ela aparece ao lado do marido recebendo um pacotão de notas, no total de R$ 50 mil. Quem entrega a grana é Durval Barbosa, aquele ex-secretário do pai que denunciou o mensalinho do DEM. (veja aqui o vídeo). O escândalo mandou o ex-governador Arruda para a cadeia (de onde já saiu, é evidente) e nos apresentou um verdadeiro show de pirotecnia corruptiva, com políticos e assessores mágicos fazendo desaparecer na teve diante dos nossos olhos, dinheiros enfiados em meias, cuecas, pastas e bolsas. A coisa fica mais estapafúrdia quando a dupla revela profundo descontentamento com o baixo valor da propina. “Você tem a possibilidade de aumentar isso pra mim?”, pergunta a filhota do Joaquinzão.

         Tudo aconteceu na mesma sala onde a deputada Eurides Brito, hoje cassada, foi a estrela de outro vídeo digno de Stone ou Coppola, recebendo sua mesma bolada. Na época, a agora investigada Jaqueline chamou a nobre colega, que hoje estaria mais para parceira ou cúmplice, de cara de pau. “Cara de pau é quem mesmo???”

         As palavras justiça e liberdade significam cada vez menos no Brasil de tantos desmandos e claros sinais de roubos e desvios de dinheiro público e enriquecimento ilícito, onde essa gente do alto escalão familiar político não cansa de multiplicar ações vis e estupidamente canalhas. Estamos no país que já é quase a sétima potência econômica do planeta, mas que permite a esses ladrões de casaca a proteção hedionda do corporativismo e os julgamentos garantidos por segredo de justiça. Na outra ponta, negros, prostitutas e pobres são jogados atrás das grades até pelo simples ato de roubar pão para matar a fome. Aqui, se vai em cana mesmo quando o crime famélico é caracterizado. Em Brasília, o tal autor da inesquecível obra literária “Marimbondos de Fogo”, eternizado no poder, banca uma festa de arromba, autorizada pelos nobres colegas, ao custo de quase R$ 70 mil, regada a guloseimas, petiscos, bebericos de toda octanagem e, como peça de resistência, pato com laranja.

         Quem paga o pato e também as laranjas somos nós, na verdade os bananas disso tudo. Somos os otários que nada fazemos para mudar a história, cada vez mais contada por gente que acha que um salário de R$ 545 é o máximo que se pode dar ao trabalhador obrigado a viver com a migalha que cai da mesa abastada dos banquetes palacianos.

         Estava certo Oscar Wilde sobre a classe operária vivendo de migalhas cuspidas da mesa dos grandes corruptos. É o clássico desempenho dos poderosos que pisam nos fracos para exportar seus filhos para que sejam bem educados em escolas ricas de países ricos. Rapazes e moças bem-nascidos de bochechas rosadas e apetite tão voraz para o capital quanto o de seus pais. Que o diga Roriz e sua filha deputada eleita pelo povo e que provavelmente ri de tudo nas alcovas douradas, ao lado do marido mensaleiro. Isso sem falar no deputado João Paulo Cunha, do PT e do mensalão, eleito presidente da Comissão de Justiça da Câmara. São lobos tomando conta dos cordeiros sob a vista complacente de todos nós, os bananas.
(Texto de José Luiz Datena).