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quarta-feira, 31 de agosto de 2011

DERRUBA A MÃE, PEÃO

Por Lilian Buzzetto

Poucas vezes na vida algo me deixou tão revoltada quanto o peão de Barretos que quebrou a coluna de um bezerro. O bicho estatelado na arena, carregado por não conseguir levantar não vai sair da minha memória por muito tempo. (Pedi expressamente para não ilustrarem o texto com a foto do evento porque não quero nenhuma célula ou pixel daquela besta perto de mim).

Quando vejo coisas assim perco a vontade de salvar o planeta - sinto ganas de usar mais plástico, poluir, sujar, colaborar para que a obra divina seja o mais fodida possível. Para garantir, escrevo esse texto com o chuveiro ligado, gastando bastante água e energia. Por quê? Porque não tenho a menor vontade de deixar um mundo melhor para as próximas gerações... Aliás, sequer sei se uma próxima geração de gente é boa idéia.

Gente como esse César Brosco e todos os espectadores pendurados em volta fazem com que eu queira a humanidade varrida da existência. Algumas outras espécies inocentes vão junto, claro, mas - venhamos e convenhamos - elas já estão bem ferradas por coabitar o planeta conosco pra começar. E, abrindo espaço, quem sabe evolua alguma forma de vida que preste para povoar a esfera azul.

Aliás, falando em espécie, recuso-me terminantemente a acreditar que eu e essa peãozada fazemos parte da mesma. Prefiro ser chamada de vaca a compartilhar qualquer semelhança com essa raça de gente que usa fantasia de texano fora de festa temática. E me sentiria muito mais digna usando os chifres do que o chapéu.

Como bradei aos quatro ventos ao saber da notícia, o Código Penal me proíbe de ameaçar ou tomar a atitude que eu acho cabível com essa criatura e seus pares... ok. Mas não há nada na lei me tolhendo o direito de torcer que eles terminem suas vidas tão tetraplégicos quanto o bezerro na arena. Desejar não é crime e eu desejo muito que essa gente se foda. De preferência, num acidente que envolva um chifre enfiado no reto levando o saco na ponta de lambuja.

Sim, minha alma está enegrecida pelo ódio e muito provavelmente eu preciso aprender algo sobre compaixão e perdão. Talvez, eu devesse sentir pena desses ignóbeis. Mas eu não sou tão correta assim. Prefiro odiar irracionalmente, correr o risco de ser reprovada na vida e reencarnar como besouro rola bosta a voltar junto com a trupe do chapéu.

Preconceito? Não tem nada de pré nisso. É PÓS CONCEITO. Depois de tudo que já li, vi e ouvi sobre touradas, rodeios, brigas de galo e atividades de lazer que machucam os animais, desconfio que a humanidade tem muito mais psicopata enrustido do que a gente quer acreditar... E psicopata é o termo correto, na minha opinião, porque sentir prazer com o sofrimento de animais é parte da velha Tríade de McDonald que os psiquiatras usam para identificar a escória humana que não tem solução. (Sou capaz de apostar que a maioria deles mija na cama também).

Nem mesmo quando ouço sobre crimes hediondos fico tão indignada. Assassinatos, estupros, gente botando fogo em filho... nada me revolta neste nível. Talvez porque, no fundo, mesmo quando há gente inocente sofrendo, é tudo parte da mesma raça e a humanidade que se entenda. Agora, os animais, menos evoluídos, não deveriam ter nada a ver com a parcela escrota da população que mata - não para comer, não para se defender, não para disputar algo necessário para a sobrevivência - mas para se divertir de alguma forma distorcida e sádica.

Se esses machões precisam demonstrar algum tipo de brutalidade para se sentirem bem, deveriam passar o resto da vida quebrando pedra na Sibéria (ou minerando a Patagônia, por proximidade) para mostrar a força. Ou tal corja poderia ser condenada a puxar carroça pesada no lugar do burro - o que serviria bem para exibir potentes músculos e, de quebra, para fazer algo que preste. Eu acho.

Não posso fazer muita coisa além de não compactuar e tornar público o quanto detesto esses esportes que envolvem a prática de maus-tratos com os animais e seus respectivos praticantes. Mas posso pedir encarecidamente para todos aqueles que souberem quem são os PATROCINADORES deste tipo de selvageria, que me avisem. Farei questão de nunca consumir um só produto que eles fabriquem - e fazer campanha contra. Não é muita coisa, principalmente sozinha, mas no mundo capitalista é o melhor jeito que conheço para agredir dentro do permitido.

E quanto à humanidade, termino com um recadinho para o superior hipotético me apropriando das palavras de George Carlin: "Se este é o melhor que você pode fazer, Deus, NÃO ESTOU IMPRESSIONADA"... Agora, deixa eu achar um site de astronomia para ver se consigo restaurar a fé em algum tipo de ser supremo onipotente e minimamente competente. Ou torcer para que os cientistas tenham encontrado um asteróide do tamanho da Lua em rota de colisão com esta merda.

E quem gosta de rodeio, pode continuar gostando. Mas não quero NENHUM contato e estou pouco me lixando para o que você pensa a meu respeito ou à minha opinião. Retribua se lixando para a minha e se afaste antes que eu vomite no tapete.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

COPA 2014 JÁ TEM SEUS PERDEDORES


      As primeiras reações à escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo 2014 foram de festa.
      De certo modo justificada: depois de mais de 60 anos, o país que tem o futebol como uma marca de cultura popular, com centenas de milhares de campos de várzea espalhados por todos os cantos, poderia voltar a ver de perto o maior evento futebolístico do planeta.
      O menino da favela poderia, quem sabe, ir ao estádio ver seus maiores ídolos, que costumam se exibir apenas nos campos europeus. Um sonho…
      Que não tardou muito em gerar desilusão.
      De início, apareceu o incômodo problema de quem iria pagar a conta.
      E veio a resposta, ainda mais incômoda, de que 98,5% do gordo orçamento do evento seriam financiados com dinheiro público, segundo estudo do TCU. Boa parte do BNDES, é verdade. Mas o capital do BNDES é alimentado pelo Orçamento Geral da União, portanto, dinheiro público, apesar dos malabarismos explicativos do Ministro dos Esportes.
      Dinheiro que deveria ser investido no SUS, na educação, em habitação popular e tantos outros gargalos mais urgentes do país.
      A questão torna-se ainda mais grave quando, motivado pelo argumento do tempo curto até 2014, o controle público dos gastos corre sério risco.
      A FIFA impõe contratos milionários com patrocinadores privados. E o presidente do todo-poderoso Comitê Local é ninguém menos que Ricardo Teixeira, que dispensa comentários quanto à lisura e honestidade no trato com dinheiro.
      Estes temas têm sido amplamente tratados pela grande imprensa.
      No entanto, há uma outra dimensão do problema, infelizmente pouco abordada. E não menos grave. Trata-se das consequências profundamente excludentes dos investimentos da Copa nas 12 cidades que a abrigarão.
      Três anos antes da bola rolar, esta Copa já definiu os perdedores. E serão muitos, centenas de milhares de famílias afetadas direta ou indiretamente pelas obras.
      Somente com despejos e remoções forçadas já há um número de 70 mil famílias afetadas, segundo dossiê de março deste ano produzido pela Relatora do Direito à Moradia na ONU, Raquel Rolnik.
      E estes dados foram obtidos unicamente através de denúncias de comunidades e movimentos populares. O que significa que os números tendem a ser muito maiores.
      A Resistência Urbana – Frente Nacional de Movimentos solicitou a representantes governamentais do Conselho das Cidades um dado estimado de famílias despejadas e recebeu a resposta de que este levantamento não existe. O Portal da Transparência para a Copa 2014 tampouco fornece qualquer informação. Há uma verdadeira caixa-preta entorno dos números.
      Isso facilita que qualquer processo de remoção receba o carimbo da Copa e, deste modo, seja conduzido em regime de urgência, sem negociação com a comunidade e passando por cima dos direitos mais elementares.
      E, o que é pior, na maioria dos casos não há qualquer alternativa para as famílias despejadas. Quando há, são jogadas em conjuntos habitacionais de regiões mais periféricas, com infra-estrutura precária e ausência de serviços públicos.
      Não é demais lembrar que, na África do Sul, milhares de famílias continuam hoje vivendo em alojamentos após terem sido removidas para a realização da Copa 2010.
      Quem sorri de orelha a orelha é o capital imobiliário.
      As grandes empreiteiras e, principalmente, os especuladores de terra urbana se impõem como os grandes vitoriosos. Nunca ganharam tanto.
      Levantamento recente do Creci-SP mostra que em 2010 houve uma valorização de até 187% de imóveis usados em São Paulo e um aumento de até 146% no valor dos aluguéis. A rentabilidade do investimento imobiliário superou a maior parte das aplicações financeiras Para este segmento a Copa é um grande negócio.
      Quem perde com isso é a maior parte do povo brasileiro. O trabalhador que ainda podia pagar aluguel num bairro mais central é atirado para as periferias. E mesmo nas periferias, os moradores são atirados para cidades mais distantes das regiões metropolitanas.
      As obras da Copa desempenham um papel chave neste processo de segregação. O exemplo de Itaquera não deixa dúvidas: os preços de compra e aluguel dos imóveis dobraram após o anúncio da construção do estádio. Aliás, não se trata de um fenômeno apenas nacional: as Olimpíadas de Barcelona (1992), por exemplo, foram precedidas de um aumento de 130% no valor dos imóveis; em Seul (1988) 15% da população sofreu remoções. A conta costuma ficar para os mais pobres.
      Isso quando não se paga com a liberdade ou a vida. Na África do Sul, durante a Copa 2010, foi criada por exigência da FIFA uma legislação de exceção, com tribunais sumários para julgar e condenar qualquer transgressão. O Pan do Rio foi precedido de um massacre no Morro do Alemão, com dezenas de mortos pela polícia, supostamente “traficantes”. Despejos arbitrários, repressão ao trabalho informal, manter os favelados na favela e punir exemplarmente qualquer “subversão”, eis a receita para os mega-eventos. Receita que mistura perversamente lucros exorbitantes, gastos públicos escusos e exclusão social.

Guilherme Boulos, membro da coordenação nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), militante da Resistência Urbana – Frente Nacional de Movimentos e da CSP Conlutas (Central Sindical e Popular).

sábado, 27 de agosto de 2011

ARTISTA PROTESTA CONTRA OS RODEIOS

 
     
      O  painel será feito na Avenida Brigadeiro Faria Lima, na altura do número 324, na Zona Oeste da cidade de São Paulo, com o objetivo de protestar contra as "festas de rodeio" que acontecem no estado. A obra do artista plástico e grafiteiro Eduardo Kobra foi pensada após um bezerro ficar paralítico e ter que ser sacrificado após uma "prova" na Festão do Peão de Barretos, no dia 19 de agosto. “A cena é de uma estupidez enorme, que só mostra a violência humana contra os animais. Fiz questão de mostrá-la em um muro, para fomentar ainda mais a indignação”, disse Kobra

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

CONTROLE DE NATALIDADE PARA POBRES


      Após ter sua casa assaltada na manhã de terça-feira (23), o deputado Antonio Salim Curiati (PP), 83, defendeu o controle de natalidade da população pobre como solução para a criminalidade: “A Dilma vem falar do Bolsa Família. Aí você agracia a comunidade carente, e eles começam a ter filhos à vontade. É preciso controlar a paternidade (sic).”

      Segundo noticiado através do UOL, o nobre deputado ainda citou países onde o ladrão tem suas mãos decepadas como punição, mas disse não apoiar a iniciativa. “Não sou tão radical assim.”

      Esse tipo de declaração facilita a vida dos jornalistas. É uma piada pronta! Discorrer sobre as toneladas de discriminação social que pesam sobre ela seria chutar cachorro morto.

      Considerando que os crimes do colarinho branco e a violência física são constantes na classe política (a lista é historicamente grande: de Hildebrando Pascoal e as torturas com motosserra, passando por prefeito indiciado por chacinar fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego até incontáveis assassinatos de rivais ou líderes sociais), mais do que em qualquer outro agrupamento social, pergunto-me se Curiati concordaria com o controle de natalidade dos que são eleitos por voto popular.

      Afinal de contas, a hereditariedade da política tem produzido alguns clãs que passam o poder de pai para filho, defendendo interesses particulares em detrimento a res publica. Temos exemplos notáveis no Maranhão, na Bahia, em São Paulo… Melhor, por via das dúvidas, impedir que eles fiquem se reproduzindo por aí, gerando linhagens que custam tão caro aos nossos suados impostos.

      Curiati parece um homem sincero ao falar do tema. Faz sentido, portanto, imaginar se os kibes que ele levou como mimo a Paulo Maluf quando este se encontrava preso na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo, em setembro de 2005, foram batizados com algum anticoncepcional ou agente esterilizante. Afinal, Maluf e seu filho estavam sendo acusados de formação de quadrilha, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

      Por fim, vale lembrar que membros do Partido Progressista se notabilizaram por posições um tanto quanto estranhas. Em um quadro de perguntas e respostas do programa CQC, em março deste ano, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse que um filho que fuma maconha merece levar “porrada”, um pai presente e boa educação garantem que a prole não seja gay e que seus filhos eram educados e que não viveram em ambiente de promiscuidade (quando questionado o que aconteceria caso se apaixonassem por uma negra). Outra frase de efeito sua: “O grande erro foi ter torturado e não matado” – esta dita após seminário no Clube Militar, no Rio de Janeiro, em 2008, contra manifestantes do Grupo Tortura Nunca Mais e da União Nacional dos Estudantes. Maluf (PP-SP) já sugeriu aos criminosos “estupre, mas não não mate”. Celso Russomano, também da área paulista do partido, chegou a defender a redução da idade mínima para trabalho, o que possibilitaria que crianças de 12 anos pegassem no batente.

      Em tempo: também sou contra cortar a mão dos políticos que forem pegos em casos de corrupção. Fazendo minhas as palavras do deputado, “não sou tão radical assim”.

Leonardo Sakamoto
 

terça-feira, 23 de agosto de 2011

PEÃO TRAVESTIDO DE CAUBÓI NORTE-AMERICANO TORTURA ANIMAL ATÉ A MORTE EM BARRETOS


Morte de bezerro em rodeio pode gerar ação por formação de quadrilha.  A ação de entidades de proteção animal contra a Festa do Peão de Barretos será por formação de quadrilha. A representação, na Promotoria Criminal, será feita por conta da morte de um bezerro na sexta-feira. O animal foi sacrificado depois da prova bulldog, em que o peão precisa derrubar o bezerro com as mãos.

De acordo com o presidente da ONG PEA (Projeto Esperança Animal), Carlos Rosolen, serão denunciados a associação Os Independentes, que organiza o evento, o veterinário responsável e o torturador Cesar Brosco. "Eles sabiam que isso poderia acontecer e assumiram o risco", afirma Rosolen.

O bezerro ficou tetraplégico durante a prova na arena no fim da noite de sexta-feira (19). Na modalidade, um imbecil travestido de caubói norte-americano salta sobre o animal e com os braços tem que imobilizá-lo. A suspeita é que bezerro tenha quebrado a coluna cervical.

Segundo a assessoria do evento, o “competidor” executou os procedimentos para a prova de bulldog e depois que terminou foi verificado que o bezerro ficou imóvel na arena. Os veterinários constataram que a paralisia havia evoluído. O animal foi, então, sacrificado, o que, segundo a assessoria do evento, é o procedimento normal nessas ocasiões.  Já pensaram se o mesmo procedimento fosse adotado quando esses “caubois” se machucassem ?

O PEA deverá ratificar a ação que será feita pelo Fórum Nacional de Proteção e Defesa Animal, entidade que congrega várias associações. Para Sônia Fonseca, presidente do fórum, a morte do bezerro é mais uma prova de que há maus-tratos contra animais dentro dos rodeios.

O fórum também irá pedir à Justiça que esse tipo de prova seja eliminado. A WSPA (Sociedade Mundial de Proteção Animal), que levará o caso ao recém criado Grupo de Atuação Especial de Defesa Animal, do Ministério Público, também ingressará com ação semelhante.

Há quatro anos, a prova do laço foi banida por causa da falta de um redutor de impacto nos animais.

Momento em que o torturador de animais cesar brosco quebra a coluna cervical do Bezerro


Torturador em seu "grande momento"


 Bezerro permanece imóvel no chão 


Animal é retirado para ser sacrificado

sexta-feira, 19 de agosto de 2011


      A cena é de 2010, mas fatalmente se repetirá neste ano: Uma mãe, na saída de uma escola infantil, segurava pelas mãos um garoto de uns dois anos, com olhar assustado, com uma capa preta e uma cartola também preta com pequenas figuras de abóboras levando nas mãos uma espécie de machado de plástico.

      “A cultura é um sistema perceptivo de armazenagem e divulgação de informações de uma pessoa a outra. São processos inseparáveis da memória de cada indivíduo que formam uma comunidade. Ou seja, a estrutura de organização de uma sociedade se manifesta na orientação de sua memória coletiva. Cultura é assim memória coletiva não-hereditária. O que nossos avós e toda a estrutura social do século 19, que atravessou o século 20, sentiam, pensavam e percebiam desembocou naquilo que somos hoje. Mas de maneira a influenciar e não a determinar. Fosse hereditária, a cultura seria estanque. E não é”.

      Toda essa reflexão está calcada na informação mercadológica de que as vendas de materiais para fantasias da festa de Raloim, festa típica da cultura estadunidense, batem a então tradicional festa brasileira do Carnaval, em mais de 40%.

      O que explicaria esse fato é o interesse desenfreado das crianças. Ou das mães... As jovens na faixa etária entre 24 anos e 30 anos, com filhos nas pré-escolas ou ensino fundamental, foram as primeiras no Brasil, quando cursavam alguma escola de idioma inglês, a ter contato com as fantasias e apetrechos para a festa. E carregam, obviamente, essa alegria de poder brincar novamente, porém, agora, através dos filhos. Isso tende a persistir por gerações até que por alguma razão esse encantamento por brincar de bruxa e se fantasiar seja trocado por algum outro novo hábito.

      Esse é o ponto central dessa discussão. Não se trata de apenas e simplesmente julgar e acusar os brasileiros de macacos imitadores dos Estados Unidos. Claro que somos, afinal nada do que provocou a tradição do Raloim primeiramente na Irlanda e depois nos Estados Unidos (culturas anglosaxãs) tem relação com a cultura brasileira (latina). O ponto central é observar em qual momento a memória coletiva do brasileiro abandonou suas raízes e se permitiu ficar encantado.

      O Raloim nada mais é do que apenas mais um aspecto dessa massificação da cultura estadunidense sobre nós: o Papai Noel entrou em nossa vida como se de fato existisse, Nem mesmo as imagens das pesadas roupas de frio em contraponto com o nosso calor tropical chocam mais. O faroeste (hoje fora de moda) já ocupou horário nobre na TV brasileira. Hoje outra imitação importada são os rodeios, que infestam principalmente o interior paulista.

      Todos esses aspectos, isoladamente, têm um significado limitado. Mas no contexto social e histórico explicam ações cada vez menos sociais de nossa cultura. Explicam o individualismo do cada um por si. Explicam a falta de generosidade. Características que não eram da nossa cultura. Não eram. Mas são incrustadas em nosso inconsciente pelas mensagens subliminares que começam inocentemente com uma simples brincadeira onde o mote se expressa nessa palavra de ordem: “doce ou traquinagem”. Ou seja, “me dá o que eu quero senão eu te faço algum mal”.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

ALGEMAS

A recente operação da Polícia Federal que colocou sob regime de prisão temporária e prisão preventiva vários servidores do Ministério do Turismo deu margem a uma gritaria generalizada através da imprensa.

Parlamentares, membros do governo, a presidenta Dilma e até mesmo o ex-presidente Lula questionaram duramente o fato dos presos terem sido submetidos a um tratamento indigno. Foram algemados pelos policiais federais e tiveram suas fotografias divulgadas na imprensa como "bandidos comuns", sem camisa e segurando uma cartolina com identificação.

O mundo veio abaixo na área política. A gritaria foi geral: O Ministro da Justiça que vai responsabilizar o agente federal que aplicou algema no secretário-executivo do Ministério; grita a presidente, indignada; esbraveja o líder do PMDB que indicou a pessoa; reclama o ex-presidente de que "pessoa que têm endereço fixo, RG e CPF seja presa como se fosse um bandido qualquer." Tem razão; não é um bandido qualquer, é mais do que isso. Desviar dinheiro dos nossos impostos, que depois vai faltar para a educação, saúde, segurança, estradas, deveria ser crime hediondo. Mas projetos-de-lei para considerar hediondo o crime de desviar dinheiro do povo dormitam nas gavetas dos que indicam essa gente ou temem um dia também ser algemados.

A dignidade do preso, de qualquer preso, independente do crime de que esteja sendo acusado ou pelo qual tenha sido condenado, deve ser respeitada. Expô-lo à execração pública é, no mínimo, submeter o preso, suspeito ou criminoso condenado, a uma dupla pena. Dupla pena que, inclusive, ultrapassa o próprio preso e alcança sua família.

Da mesma forma, princípios como o da presunção da inocência não podem ser ignorados. Até que um tribunal decrete uma sentença que reconheça o crime e sua autoria, o acusado é tão somente um réu.

Mas, diariamente, assistimos em praticamente todas as emissoras de televisão do país, seja em telejornais, seja em programas estilo "mundo cão" dedicados à exploração circense dos problemas sociais, a condenação antecipada, ao vivo e a cores, de dezenas e dezenas de cidadãos brasileiros. Aqui, não faltam algemas, cenas de violência, arbitrariedades policiais. Apresentadores, âncoras do telejornalismo, especialistas de última hora, populares entrevistados, todos travestidos de juízes, condenam sem qualquer apelação.

Não lembro de ter visto qualquer autoridade da República gastar um pouco que seja do seu precioso tempo na defesa destes cidadãos. Não os vejo, nunca, indignados com tais indignidades, com tamanho desrespeito. Nestes casos que, diariamente nos chegam pela mídia, algemas e imagens se tornam invisíveis, princípios e garantias dos cidadãos são esquecidos.

A compreensão, perigosamente naturalizada, é de que há crimes e crimes. Criminosos e criminosos. Para os suspeitos ou condenados por determinados crimes, direitos e garantias devem ser aplicados. E se não forem aplicados: gritaria, pronunciamentos, editoriais. Já para outros crimes, para certos criminosos, para os... "bandidos comuns". Bem, para estes, direitos e garantias são um luxo. Para estes, as algemas são como pulseiras que enfeitam. Não machucam os punhos. Não fazem autoridades levantarem a voz.

O que é mais grave: a aplicação de algemas ou desviar milhões do dinheiro do povo? É lamentável que os que se dizem estarrecidos pelo uso de algemas não fiquem estarrecidos com os desvios de bilhões do dinheiro do povo. E que, algemas e fotos sem camisa talvez sejam as únicas penas que eles receberão, inclusive sem devolver o dinheiro. Essa gente têm sorte de estar no Brasil, onde têm tantos defensores nas altas esferas. Se estivessem no Irã, poderiam não ter algemas, porque tampouco teriam mãos.


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

JOSÉ CARLOS MONTEIRO TERRA

        
         Ao juntar minha bagagem de jornalista e partir para Sorocaba como redator do jornal Cruzeiro do Sul nos idos de 1975, encontramos o professor de química José Carlos Monteiro Terra, da OSE - Organização Sorocabana de Ensino, e pudemos matar a saudade do tempo do Parque Infantil, quando pulávamos o muro da sua casa (hoje lamentavelmente descaracterizada) na tentativa de dar continuidade à correria, para a qual o espaço arenoso do parque era pequeno. Muitas vezes, sua mãe, a dona Mimi, imortal professora de todos nós, depois de nós dar uma bronca colocava o Zé Carlos de castigo pelo resto da tarde. Depois, voltei para São Miguel Arcanjo e vim saber do amigo, quando de suas núpcias e posteriormente quando cursava engenharia.

         Certa ocasião, o meu amigo Paulo Manoel, sempre às voltas com seu moinho de vento com relação ao nosso chão, resolveu reunir elementos da diáspora são-miguelense, para saber o que faziam e onde era o paradeiro destes, convidando-os a impulsionar de alguma forma a cultura da terra. Encabeçando a lista estava o padre Marivaldo de Oliveira, que além de abrir os braços, franqueou sua paróquia para encontros e reuniões. Numa noite, enquanto eu fazia meu programa de rádio o José Carlos Monteiro Terra me telefonou perguntando se ele poderia ir até a emissora mostrar o seu projeto junto aos egressos da Fundação Casa, incluindo na atividade laboral indivíduos apenados, sem perspectiva de futuro. Era um trabalho voluntário do amigo sãomiguelense, que merecia um programa inteiro. E assim o fiz. E desde aquele dia, onde eu estive inclusive com um programa jornalístico na TV só meu, com uma hora de duração, eu levei o José Carlos. Aplaudindo e incentivando o projeto do moço, outro sãomiguelense de estirpe: o Aylton Sewabricker, que na época era presidente da Fundação Ubaldino do Amaral, entidade mantenedora do Jornal Cruzeiro do Sul, do Colégio Politécnico, da TV Cidade de Sorocaba, pertencentes à Loja Maçônica Perseverança III. Para quem não sabe, o Aylton Sewbricker e neto do saudoso Joaquim Maestro. Certa feita nos reunimos no jornal Cruzeiro do Sul e tiramos uma foto histórica para recordação, chamada “São-miguelenses ausentes, sempre presentes”.


          José Carlos aparece agora com outras boas novas na área em que abraçou. Deverá estar concluindo um MBA de Gestão Empreendedora de Negócios na Esamc e o tema de sua monografia é a “Implantação de um parque agro-industrial em São Miguel Arcanjo”. Além da literatura acadêmica, o moço entrou em contato com o prefeito Celso Mocim e com seu secretário Ari Rosa, os quais estão aguardando o projeto para estudar a viabilidade. Segundo José Carlos, sua intenção é ampliar oportunidades de trabalho para a população carente, de forma a aquecer a economia do município. Em sua demonstração às autoridades municipais, o engenheiro fez questão de lembrar que seus dois avós: José dos Santos Terra e Edwiges Monteiro foram prefeitos em São Miguel Arcanjo no começo do século XX. Além desses fatores que por si só já são importantes, José Carlos se propõe prestar consultoria para a estruturação empresarial, buscando melhorias de resultados e de sustentabilidade.

         José Carlos Monteiro Terra trabalha voluntariamente no CDP - Centro de Detenção provisória de Sorocaba, desde 2009, num projeto chamado “Carpie Diem”, para tirar a população carcerária da ociosidade, angariando junto às empresas com quem se relaciona, espaço de trabalho para ex-detento. O José Carlos é gente nosso que brilha e merece nosso aplauso.

Orlando Pinheiro

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

7º PRÊMIO LOLLO TERRA DE MPB


         O 7º Prêmio "Lollo Terra de MPB", evento em homenagem ao compositor Auro Antônio dos Santos Terra (Lollo Terra), acontecerá de 26 a 30 de outubro de 2011, no Clube Recreativo "Bernardes Jr." na cidade de São Miguel Arcanjo, SP.

         Neste ano, o festival também homenageará os 40 anos de realização de festivais de MPB em São Miguel Arcanjo (1971-2011), relembrando os concorrentes e vencedores, do passado e da atual fase de realizações.

         Em sua sétima edição, o Prêmio “Lollo Terra de MPB” consolida-se como um dos principais festivais do estado de São Paulo, mantendo suas principais características: organização qualificada e respeito total ao músico e ao compositor.

      Neste ano os concorrentes estarão disputando prêmios de 10 mil reais. As inscrições já estão abertas através dos sites: http://www.portaldoarcanjo.com.br/ www.festivaisdobrasil.com.br www.premiololloterradempb.blogspot.com 
até o dia 10 de outubro.