Seguidores

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

VELHOS CARNAVAIS


Havia, sim, fio dental naqueles tempos. Mas se usava nos dentes. Não na bunda.
Do silicone nem se falava.
Os seios eram deliciosamente naturais e biquinhos sensíveis se arrepiavam quando se tocava neles. Mas, não ficavam à mostra e os namorados só sabiam do arrepio pelos suspiros e ais do não aguento mais.
As pernas das garotas não eram iguais às de Roberto Carlos, do Corinthians, ou do Boi, o grande atacante do glorioso EC São Miguel. Sem músculos, macias, bem torneadas davam vontade de ver o mundo de pernas pro ar.
Se uma daquelas garotas, num impeto amoroso, abraçasse seu namorado, ele não corria o risco de morrer asfixiado pela força dos braços que as mulheres têm hoje.
Eu me lembro do corpo frágil e delicado da Lurdinha Fogaça, a transitar com sua beleza suave pelo salão do Bernardes Jr.
Naqueles tempos, o único pó que se cheirava era o que subia no vai-e-vem de quem pulava. E o fuminho que se acendia quase sempre estava com a data de validade vencida.
Nenhuma moça dançava na boquinha da garrafa e isso dava a certeza absoluta de que não soltavam pum no salão.
Havia brigas, mas homem nenhum puxava o cabelo do outro, nem retocava a maquiagem depois, como acontece hoje em qualquer baile.
Não havia propaganda na TV para se usar camisinha. Naqueles tempos, ninguém esperava o Carnaval para dar ou levar uma pimbada. O Carnaval era apenas uma festa onde ricos e pobres, feios e bonitos, velhos e moços botavam pra quebrar as agruras da vida. E cantavam: Ei, você aí, me dá um dinheiro aí...
E os que não haviam resolvido seus complexos de Édipo, atacavam: Mamãe eu quero, Mamãe eu quero mamar...
Bons tempos em que João Ortiz e sua banda só tocavam marchinhas e sambas, com começo, meio e fim, sem a bagunça generalizada do Rap e outros absurdos musicais.
Hoje, o Carnaval se resume em bundas imensas que a Rede Globo faz questão de sacudir na nossa cara.
Mais triste é que são bundas artificiais, no tamanho e proporção do grande cocô em que transformaram o mundo.
Foliões de velhos carnavais, um conselho: fiquem em casa com seus pedacinhos coloridos de saudade.

(Mais uma excelente crônica de Miguel Arcanjo Terra, Revista da Paróquia)

Nenhum comentário:

Postar um comentário