Seguidores

segunda-feira, 7 de março de 2011

REPÚBLICA DOS BANANAS


            Numa cena do filme “Wall Street”, Gordon Gekko, o personagem interpretado por Michael Douglas, a certa altura dispara: “A ganância é boa”. Oliver Stone, que escreveu os diálogos e dirigiu o filme, bem que poderia compor uma marchinha com esse bordão para o cordão do mensalão, que cada vez aumenta mais. Em plena festa de momo, surge mais uma denúncia recheada de vídeos dignos da mais pura pornografia moral que assola o meio político num país onde a verdade, mais do que a busca, é clamor de todos, só que jogo para poucos, do pensador mais famoso ao mais simples iletrado trabalhador deste pedaço de chão tupiniquim. Em meio a nossa folia de confetes e serpentinas, jogado num rodapé das páginas da grande imprensa – ocupada, é claro, com os desfiles de sambódromos -, surge a notícia sobre a “molhação de mão” da deputada federal Jaqueline Roriz, filha do manjado Joaquim Roriz. Pausa para outro refrão: “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí...”

         A gravação é de 2006, quando o paizão da nobre deputada era governador do Distrito Federal e ela aparece ao lado do marido recebendo um pacotão de notas, no total de R$ 50 mil. Quem entrega a grana é Durval Barbosa, aquele ex-secretário do pai que denunciou o mensalinho do DEM. (veja aqui o vídeo). O escândalo mandou o ex-governador Arruda para a cadeia (de onde já saiu, é evidente) e nos apresentou um verdadeiro show de pirotecnia corruptiva, com políticos e assessores mágicos fazendo desaparecer na teve diante dos nossos olhos, dinheiros enfiados em meias, cuecas, pastas e bolsas. A coisa fica mais estapafúrdia quando a dupla revela profundo descontentamento com o baixo valor da propina. “Você tem a possibilidade de aumentar isso pra mim?”, pergunta a filhota do Joaquinzão.

         Tudo aconteceu na mesma sala onde a deputada Eurides Brito, hoje cassada, foi a estrela de outro vídeo digno de Stone ou Coppola, recebendo sua mesma bolada. Na época, a agora investigada Jaqueline chamou a nobre colega, que hoje estaria mais para parceira ou cúmplice, de cara de pau. “Cara de pau é quem mesmo???”

         As palavras justiça e liberdade significam cada vez menos no Brasil de tantos desmandos e claros sinais de roubos e desvios de dinheiro público e enriquecimento ilícito, onde essa gente do alto escalão familiar político não cansa de multiplicar ações vis e estupidamente canalhas. Estamos no país que já é quase a sétima potência econômica do planeta, mas que permite a esses ladrões de casaca a proteção hedionda do corporativismo e os julgamentos garantidos por segredo de justiça. Na outra ponta, negros, prostitutas e pobres são jogados atrás das grades até pelo simples ato de roubar pão para matar a fome. Aqui, se vai em cana mesmo quando o crime famélico é caracterizado. Em Brasília, o tal autor da inesquecível obra literária “Marimbondos de Fogo”, eternizado no poder, banca uma festa de arromba, autorizada pelos nobres colegas, ao custo de quase R$ 70 mil, regada a guloseimas, petiscos, bebericos de toda octanagem e, como peça de resistência, pato com laranja.

         Quem paga o pato e também as laranjas somos nós, na verdade os bananas disso tudo. Somos os otários que nada fazemos para mudar a história, cada vez mais contada por gente que acha que um salário de R$ 545 é o máximo que se pode dar ao trabalhador obrigado a viver com a migalha que cai da mesa abastada dos banquetes palacianos.

         Estava certo Oscar Wilde sobre a classe operária vivendo de migalhas cuspidas da mesa dos grandes corruptos. É o clássico desempenho dos poderosos que pisam nos fracos para exportar seus filhos para que sejam bem educados em escolas ricas de países ricos. Rapazes e moças bem-nascidos de bochechas rosadas e apetite tão voraz para o capital quanto o de seus pais. Que o diga Roriz e sua filha deputada eleita pelo povo e que provavelmente ri de tudo nas alcovas douradas, ao lado do marido mensaleiro. Isso sem falar no deputado João Paulo Cunha, do PT e do mensalão, eleito presidente da Comissão de Justiça da Câmara. São lobos tomando conta dos cordeiros sob a vista complacente de todos nós, os bananas.
(Texto de José Luiz Datena).

Nenhum comentário:

Postar um comentário