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terça-feira, 21 de setembro de 2010

QUAL É A NOSSA VOCAÇÃO?


          Domingo, 19 de setembro de 2010, nove e trinta da manhã. Manhã fria como toda boa manhã em São Miguel. Depois de passar pela banca de revista resolvi dar uma espiada lá na “casa de São Miguel” para ver se não mudaram mais nada... Confesso que, apesar do meu momento “de pouca fé”, continuo minha busca por Ele, talvez mais que muitos religiosos convictos e “de muita fé”, e admito que algumas vezes, quando no interior dessa igreja, encontrei respostas para algumas perguntas. Mas para a mais recente ainda não obtive resposta: O que estão fazendo com a nossa igreja matriz?

         Numa das últimas vezes que entrei nessa casa, sentado ali num dos bancos, sem olhar para os lados e concentrando-me apenas naquele “palco” lá no fundo, tive a impressão de que a qualquer momento ia entrar um pastor esbravejando e empunhando uma bíblia como se fosse uma arma... Depois das últimas modificações, está muito parecida com aqueles cinemas reformados para cultos que vemos nas madrugadas na TV.

         Mas apesar do horário, quase dez horas, não havia movimento algum na igreja ou no seu entorno. Portas devidamente cerradas! Nem o São Miguel estava lá na janela, espiando a praça. Fiquei sentado num dos bancos da praça e observando... o frio.

         Cadê os coroinhas que subiam correndo as escadas para “tocar” o sino chamando os fieis para a missa das dez? (não sem dar uma espiadinha lá no coro para ver as filhas do Alcides de Matos). Cadê as Filhas de Maria com suas fitas azuis e véus brancos, as irmãs do Sagrado Coração de Jesus e suas fitas vermelhas e véus negros? Cadê os Irmãos do Santíssimo Sacramento com suas “opas” na cor bordô e cordões dourados? Cadê as crianças com roupa de domingo que lotavam as primeiras filas? (ali próximo àquela mesa de comunhão que existia antigamente). Tudo bem que se ganhava ingresso para a matinê... Por falar em matinê... Deixa pra lá!

         A praça está bonita. Bonita mas vazia. E fria... Penso que o que tornava essa praça aconchegante e quente era o calor humano. Em outros tempos, nesta semana já teríamos o início da chegada das barraquinhas para a Festa do Padroeiro. Pelo jeito vai continuar vazia. E fria...

         Enveredando por esses pensamentos, a cidade já teve seus ciclos, costumes e seus “modismos”, se é que podemos chamar assim: Exploração de minérios e pedras preciosas. Ciclos do fumo, do algodão, do trigo, do bicho da seda, do chá, do carvão, da uva, dos festivais de música, (retomado agora pelo Dudu), do vinho, das madeireiras e por último o turismo ecológico. Mas o fato é que São Miguel nunca encontrou, realmente, a sua verdadeira vocação.

         Assim como as pessoas, as cidades também desenvolvem suas vocações. A vocação de uma cidade nada mais é do que a soma das vocações dominantes desenvolvidas pelos empreendedores locais. Determinar um conjunto de competências, recursos e produtividade local do município em todos os sentidos: econômico, ambiental, artístico-cultural, turístico e educacional. É preciso identificar essa vocação. Levantar tudo o que a cidade tem ou produziu de melhor anteriormente e o que poderá fazer no futuro. É necessário imaginar como serão, no futuro, o setor produtivo local (indústria, comércio, serviços e agropecuária), as instituições de apoio (escolas e centros de qualificação, por exemplo), as dinâmicas econômica, social, cultural, urbana e ambiental, além das relações do município com o meio que o rodeia (região, estado, país).

         Há nestes últimos anos uma ansiedade, visando a mudança de São Miguel Arcanjo a uma inegável condição de estância turística. Esperemos que o foco político não seja somente quanto a verba especial que o Governo Federal destina às estâncias. Se for apenas isso, será mais uma trapalhada político-administrativa.

         É necessário identificar essa vocação o quanto antes e se estruturar para desenvolvê-la. Não é possível pensarmos em Reservas Ambientais quando no entorno do Parque Carlos Botelho o rio Taquaral no Abaitinga está sendo contaminado por esgoto doméstico e agrotóxicos da agricultura do século passado.

         - Vejam o exemplo da cidade mineira de Guarará. Com aproximadamente cinco mil habitantes, ela desenvolve o turismo rural onde você tem a oportunidade de visitar uma fazenda de café e participar de todo o processo de produção da bebida. O turista é convidado a colher o grão, realizar a seleção e participar da fase de torrar e moer o café. No final, o visitante degusta a bebida produzida pelas próprias mãos.
         No centro histórico da pequena cidade, o Museu de Guarará e a Igreja do Divino Espírito Santo (que deve ter seu altar-mor preservado) são paradas obrigatórias. A Festa do Divino, que ocorre em comemoração ao Dia de Pentecostes, atrai cerca de quatro mil pessoas. A população da cidade quase dobra. Durante todo o mês de setembro, os festejos em homenagem a Nossa Senhora das Mercês movimentam a cidade. A Primavera Cultural varia suas atrações a cada ano, promovendo festivais de trovas e poesias e apresentações de teatro e de bandas de música. Também em reverência à santa, são realizados eventos esportivos como corridas de mountain bike e passeios ciclísticos. As construções antigas são preservadas, divulgadas, visitadas e fotografadas por turistas. Rodeio nem pensar!

         Se a vocação for realmente pelo turismo ecológico é necessário que a cidade comece a pensar e agir como estância turística, antes mesmo de sê-la. Senão será apenas mais uma “onda” que passará e nós continuaremos sem saber qual a verdadeira vocação de nossa cidade.

         Quem sabe não voltemos a ver a praça novamente lotada de pessoas, principalmente na semana em que comemoramos o Santo Padroeiro da cidade, ainda que despojado de seu altar. Vale lembrar que agosto, o mês que antecede a festa do padroeiro, é o mês escolhido pela igreja católica para refletir sobre as vocações e que neste ano trouxe como tema: Há esperança no caminho!

         Esperamos que sim! Mas é importante também que a “Esperança, aqui, como dizia Paulo Freire, seja a prática do verbo esperançar e não do verbo esperar. Esperançar é ir atrás, é juntar, é não desistir".

3 comentários:

  1. Moço... Muito boa! Espero que a Hora tam´bem publique e com DESTAQUE! Nota 35 mil (habitantes!)Bjos

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  2. Confesso que fiquei muito emocionada!
    "A praça está bonita. Bonita mas vazia. E fria... Penso que o que tornava essa praça aconchegante e quente era o calor humano. Em outros tempos, nesta semana já teríamos o início da chegada das barraquinhas para a Festa do Padroeiro. Pelo jeito vai continuar vazia. E fria..."

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